O livro “Ualalapi” de Ungulani Ba Ka Khossa, publicado pela primeira vez em Maputo em 1987, já recebeu vários prémios literários. A obra é um conjunto de “contos contínuos” intitulados “Fragmentos do Fim”.
Nestes fragmentos, combina-se o material histórico-factual, com recurso a fontes tanto escritas como orais, e os elementos fictícios. Não é por acaso que a académica Ana Mafalda Leite (1998), quando abordada sobre o livro, tenha referido que com esta obra a ficção moçambicana “ introduz um género que se enraíza no romance histórico”.
A obra de Ba Ka Khosa questiona o passado e o presente, fazendo uma releitura das fontes históricas do século passado. O autor critica o poder político e tenta mostrar como a História pode descrever o uso desses mesmos poderes. Num outro desenvolvimento, Khosa faz uma reflexão sobre as noções de cultura e de identidade cultural. Em “Ualalapi” acontece a desmistificação total de um grande herói nacional: o imperador Ngungunhane, também conhecido por “Leão de Gaza”.
NARRATIVA
Do ponto de vista narrativo, “Ualalapi” é, como já foi indicado, um texto genericamente complexo. O livro abre com uma “nota do autor” em que se situa o protagonista Ngungunhane na história colonial.
A “nota do autor” serve de aviso ao leitor, para que distinga na história do imperador Ngungunhane “a verdade irrefutável” daquilo que ainda suscita dúvidas.
Por exemplo, na página 37 pode-se ler: “Tu és Ngunhunhane!(...) Aterrorizarás as mulheres e os homens!”, em referência ao próprio Ngungunhane e ao império dos nguni. Este trecho representa uma introdução sinistra à história do personagem Ualalapi, que depois de mandar executar Mafemane, o legítimo futuro rei, de noite desapareceu na floresta.
CRONOLOGIA DO REINADO
O livro faz um relato cronológico do reinado de Ngungunhane, a sua figura e os eventos específicos que ocorriam no seu reino. O sexto texto - que mais interessa na presente análise - dá-nos “o último discurso de Ngungunhane”.
O histórico Ngungunhane era famoso pela resistência que opôs aos portugueses e era considerado um líder muito perspicaz. Foi o último imperador de Gaza.
Na própria história apresentada no livro, desfilam vários exemplos documentais como o relato semi-ficcional da vida de Ngungunhane escrito por Khosa, mais os elementos míticos e sobrenaturais rebuscados da cultura popular moçambicana.
De referir que o último de todos os capítulos da obra contém citações da Bíblia e de vários documentos da época, de cunho administrativo, bem como as “palavras últimas de Ngungunhane antes do embarque”, referidas em língua tsonga e na tradução portuguesa.
Prova da importância desta obra é que a mesma vai ser editada em língua inglesa ainda este ano por uma das editoras do país, pretendendo fazer chegar o livro a outros países, neste caso de língua inglesa.
O Pais (Por Edmundo Chaúque)
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