como vice-ministro da Juventude e Desportos. No desporto, diz que o Fut-21 mudou a forma de gerir o futebol. Na juventude, diz que Chókwè e Cheringoma são cada vez mais uma realidade na vida dos jovens moçambicanos
Qual é o balanço que faz deste mandato a nível da Juventude e Desportos?
De uma forma geral, podemos considerar que o balanço é satisfatório (...). Pensamos que vamos conseguir cumprir com o programa quinquenal do governo.
Mas esse balanço satisfatório em que se traduz essencialmente? Que o desporto está bem, a juventude está bem?
Costuma dizer-se que o bom é inimigo do óptimo. Não, não podemos dizer que a juventude e desportos estão bem. O que nós podemos dizer é que, com base naquilo que foram as nossas expectativas do programa quinquenal do governo (...), tudo indica que estamos claramente a avançar.
Vamos começar pelo desporto, que é o de massas como se costuma dizer. quando olhamos para os resultados que foram feitos pelas nossas equipas, de um modo geral, exceptuando o basquetebol em seniores femininos onde, a nível das equipas, conseguimos ser campeões, o hóquei em patins e as artes marciais, globalmente o desempenho continua muito fraco…
Depende da perspectiva com que analisamos o sector. e, de facto, o sistema desportivo e a maneira como foi organizado no passado e como foi evoluindo até à fase em que estamos hoje leva-nos a pressupor que há alguns parâmetros de sustentabilidade básica que estão garantidos.
Falamos em termos de resultados…
...Reforçou-se o trabalho a nível dos sub-18 e sub-16, a nível desportivo. Ea questão que se coloca tem a ver com as selecções nacionais que são o reflexo de algum trabalho de base. Nós vamos concluir este ano uma das duas tarefas que ainda não estão concluídas, que é o que fazer com os escalões de formação. E, a nível da alta competição, estamos a obter resultados interessantíssimos, isso no caso do futebol. Nós estamos em 80o lugar no ranking da FIFA e estamos no número 19 no ranking da CAF. Enão foi uma subida brusca, foi uma subida paulatina, que nos dá a imagem de alguma sustentabilidade de crescimento do futebol moçambicano. (...) penso que há claras indicações de que há um trabalho que está a ser feito com os resultados que a selecção de basquetebol de sub-16 está a ter no Zimbabwe. juntando com os resultados que as selecções de sub-20 de basquetebol, quer em masculinos como em femininos, tem tido nos jogos da CPLP e nos jogos da região, temos um indicativo de que há um trabalho que está a ser feito e que tem que ser continuado e sustentado.
FUT-21 como viveiro de talentos
Em Outubro de 2006, o Conselho de Ministros aprovou um programa de revitalização do des porto, que é o chamado projecto FUT-21. Qual é o alcance deste projecto.
O grande alcance, neste momento, é que conseguimos abranger 33 distritos do nosso país. e, o que queremos é consolidar este projecto, pelo menos nestes 33 distritos, de uma forma centralizada.
E qual é o objectivo concreto deste projecto.
O objectivo concreto é dinamizar todo o futebol competitivo a nível dos escalões de formação. O projecto FUT-21 marca uma grande viragem no desporto nacional. É a primeira parceira, pública e privada, do desporto moçambicano, que nós conseguimos manter de forma sistemática e com auditoria independente de todo o processo de trabalho. ogrande objectivo é organizar, orientar, ver, pesquisar talentos e canalizá-los para a alta competição.
A Federação Moçambicana de Futebol tinha um contrato com o estado no valor de 20 milhões de meticais, no âmbito desse FUT-21. Na realidade, a maior parte deste bolo vai para as viagens, pagamentos de prémios, enfim…
Uma coisa é o contrato-programa com a Federação, com base naquilo que está estipulado, quer na lei do desporto, quer no regulamento. nós só assinamos contratos com Federações bem organizadas e a Federação de Futebol é uma delas e, quando fazemos esse contrato-programa, fazêmo-lo com base num orçamento que é debatido durante muito tempo, no qual fica claro o que é que o governo cobre e o que a Federação cobre. Eisso é o que deve ficar claro para todos. O governo comparticipa nas execuções das actividades da Federação.
Isso é no âmbito do projecto FUT-21.
Exactamente. Porque o projecto FUT-21 prevê, claramento, o desenvolvimento de uma base massiva de talentos. e, no que diz respeito à alta competição, há parceiros que querem investir na imagem da selecção nacional, mas também há outros que querem investir na qualidade de formação. Para além disso, há uma parte dos fundos dos parceiros que vai para as selecções nacionais e a outra vai para o desenvolvimento.
Qual é o alinhamento dos clubes em relação a esse projecto FUT-21.
Na realidade dos clubes moçambicanos, na fase em que estamos de desenvolvimento, da incapacidade económica real, temos algumas dificuldades em desenvolver. Portanto, o recurso inevitável da base massiva do desporto é o escolar. Tanto a Copa Coca-Cola como os jogos escolares e o desporto comunitário são objectivos do FUT-21 e funcionam como viveiros.
Temos estrutura a nível das escolas para garantir que estes talentos possam ser talentos já lapidados?
Temos alguma base de trabalho. Só nesses quatro anos e meio de mandato, nós formámos cerca de sete mil e quinhentos técnicos, árbitros e dirigentes de diversos níveis. Por outro lado, a nível das escolas, existe uma grande base de trabalho que são os professores de educação física e Desportos (...).
Onde cabem os clubes neste projecto? Alguns deles não são auto-sustentáveis, vivem às custas do Estado directa ou indirectamente. Qual é o real futuro destes clubes?
Eles não vivem directamente do orçamento do estado. Vivem mais indirectamente do que directamente. São clubes que têm acordos de trabalho com algumas empresas públicas e outras privadas...
Olha-se, por exemplo, para o Maxaquene e o Costa do Sol... sem LAM e EDM não sobrevivem...
O que nós temos que garantir é a transição e esses clubes têm acordos com empresas que os patrocinam e têm que procurar garantir a sua sustentabilidade. Eles devem organizar-se de forma a ter essa sustentabilidade. A nível da alta competição, há regras que devem ser respeitadas e o papel do governo é exactamente garantir e facilitar que essas normas sejam cumpridas.
Futebol profissional na liga
O nosso futebol é profissional ou é amador?
Aquilo que está escrito no estatuto da Liga Moçambicana de Futebol é que os clubes que participam no Campeonato Nacional de Futebol têm obrigações fiscais e têm obrigações com o Instituto de Segurança Social. Por outro lado, na nova lei do trabalho, um dos aspectos que está a ser trabalhado é a regulamentação do trabalho desportivo. A partir do ano passado, foi criada a inspecção-geral da Juventude e Desportos. Euma das suas funções é inspeccionar o cumprimento desta e outras regras vigentes no regulamento do desporto.
E os clubes já estão a assinar essas obrigatoriedades?
Claro que já começaram a assinar. Não temos informações de que todos estão a assinar. Mas cabe à inspecção, quer de seguros, quer do Ministério, quer dos outros órgãos, verificar se isso está a ser cumprido ou não.
Modalidades prioritárias
No quadro do desporto de alta competição, estão definidas quatro modalidades como prioritárias: futebol, basquetebol, atletismo e voleibol. Quais foram os pressupostos para a escolha destas modalidades?
Quando introduzimos isso no plano quinquenal do governo, tivemos um debate onde envolvemos jornalistas desportivos, académicos e o movimento associativo desportivo. Um dos pressupostos básicos que tivemos foi encontrar critérios objectivos que permitissem que as modalidades prioritárias não dependessem de quem está hoje ou quem estará amanhã no poder. (...) nós escolhemos aquelas que achamos que têm objectivos dentro do ciclo olímpico e isso está patente até no BR.
No que diz respeito ao hóquei em patins, a selecção foi campeã do grupo B e agora vai participar no mundial do grupo A, mas vai com as mesmas incertezas de sempre: falta de preparação, etc. Como é que isso faz sentido?
Não, isso não faz sentido. mas essa é uma pergunta que tem que ser dirigida aos praticantes da modalidade, clubes envolvidos, dirigentes da Federação, associações
“É difícil resolver problemas de jovens”
Como é que o estado olha para o hóquei em patins? Parece que é uma modalidade amada fora e desdenhada aqui internamente...
Nós olhamos para o hóquei como uma modalidade de prestígio para o país e uma modalidade que tem tido algumas dificuldades de fazer face, mas que tem tido algum apoio. Organizámos alguns cursos de treinadores e árbitros para esta modalidade e temos vindo a levar a cabo projectos de iniciação desta modalidade a nível do país (...).
Nesse ambiente, em 2011 teremos o campeonato do mundo do grupo A de hóquei em patins. confirma isso?
Sim, nós confirmamos isso. Recebemos essa informação da Federação Internacional de Rincock e sabemos que por parte da Federação Internacional de Patinagem existe essa intenção e, agora, teremos a confirmação na Assembleia-Geral, que terá lugar antes do mundial da Espanha.
Modelo de gestãodo Estádio Nacional
Na área de infra-estruturas, o destaque deste mandato vai, sem dúvidas, para a construção do Estádio Nacional. Aquando da candidatura de Moçambique para organizar o CAN de 2010 estavam projectados três estádios, nas três zonas do país e acabou ficando-se num, porquê?
A nível de infra-estruturas, antes de apoiarmos a candidatura da Federação, fizemos um estudo de que tipo de infra-estruturas queríamos no país e chegámos à conclusão de que precisávamos de infra-estruturas de raiz, a nível do futebol, com uma área de um centro de manutenção física, zona para teatro ao ar livre e outras áreas (...). Após falharmos o CAN 2010, desapareceu a urgência de financiamento de uma forma global. Mas o projecto continua e agora está em curso a construção do Estádio Nacional e estamos a fazer reservas de onde serão construídos os restantes dois estádios.
Como é que está o projecto da construção do Estádio Nacional?
Os prazos estão a ser cumpridos.neste momento, concluímos todas as fundações do Estádio. 850 estacas já foram montadas. Já estamos na fase avançada das bancadas da zona Oeste. O primeiro e o segundo piso já estão completos e agoras estamos a fazer conferragem do terceiro piso, há uma parte das bilheteiras que já está pronta… Portanto, podemos dizer que o Estádio está numa fase muito boa e bastante interessante de ver.
ChókwÈ e Cheringoma com seguimento
Jovens continuam, desde a Conferência de Chókwè, de Cheringoma, a falar dos mesmos problemas: emprego, habitação, ocupação. O que foi feito nesta área?
A nível do governo no geral há uma série de actividades feitas cujo objectivo principal é o sector da juventude. A educação e a expansão de todo o sistema de educação, com a criação de oportunidades de acesso ao ensino superior em todo o país (...). Há um movimento que só tem três anos praticamente, que é da iniciativa dos estudantes finalistas das universidades em Maputo, mas que já escalou todas as 10 províncias, no âmbito do projecto de férias passadas nos distritos. Têm-se feito um esforço enorme a nível distrital para a criação de condições de habitabilidade para os licenciados, quer também de criação de postos de trabalhos. Antigamente, eram os médicos que iam a essas províncias, mas hoje já encontramos engenheiros civis, juristas, juízes, procuradores e muitos licenciados que vão para esses locais.
Nos distritos, encontramos jovens desencantados porque não têm oportunidades, empregos, não têm um conjunto de situações…
A pressão sobre o emprego é grande. Há esforços que estão sendo feitos, não só pelo Instituto Nacional de Emprego e Formação Profissional, mas também a nível do Ministério da Juventude e Desportos. Nós temos procurado potenciar o associativismo através de pequenas injecções financeiras, onde apoiamos o desenvolvimento de auto-emprego nos jovens.
Há evidências de empregos que tenham sido criados a partir desses projectos?
Sim, o Instituto Nacional de Emprego e Formação Profissional levou a cabo um levantamento de todas as províncias do país das necessidades de formação e gestão de pequenos negócios, em carpintaria, electricidade, e outros cursos de formação de jovens. etemos uma outra forma de apoiar essas actividades que é a vertente de micro-créditos dirigidos a jovens empreendedores individuais (...).
Acha que as premissas que foram lançadas em Chókwè começaram a concretizar-se?
Sem dúvidas nenhumas e Cheringoma deu um salto mais em frente em relação a essas premissas.
A agenda de programas é sistematicamente a mesma…
Sabe o que isso significa? Significa que os problemas de emprego, educação, saúde e habitação ainda não estão resolvidos. E é difícil resolver. Acredito que nenhum país
vai aparecer a dizer que resolveu todos esses problemas da juventude. O que nós dizemos é que há esforços que estão a ser levados a cabo, quer na área de emprego, auto-emprego e sua promoção, quer na área da saúde e habitação, e o que é fundamental é que essas políticas, de facto, atinjam os jovens. O que possibilite que esses jovens tenham acesso a esses empregos.
Os jovens sentem que este Ministério da Juventude e Desportos é o seu Ministério?
O Ministério da Juventude e Desportos? Sim, eles sentem. Nós temos tido a preocupação de promovermos encontros com associações juvenis nos distritos e interagimos com eles e sentimos, da parte dos jovens, uma disponibilidade em nos apontar aquilo que não está a ser feito e como devia ser feito e existe um diálogo franco e sistemático com eles (...). A nossa luta é exactamente essa, é termos uma interacção com os jovens, com as associações juvenis, com os conselhos provinciais da juventude, para que, de facto, mantenhamos essa ponte e esse diálogo permanente.
CAF tem que explicar falha na candidatura do CAN 2010
O que terá falhado para que a nossa candidatura à organização do CAN 2010 não passasse?
Creio que não falhou nada. O que aconteceu é que para a candidatura tínhamos que seguir certos parâmetros e nós seguimos e apresentámos todos eles. Estavam presentes outras candidaturas e a Confederação Africana de Futebol (CAF)decidiu-se por uma das candidaturas. E a CAF nunca nos disse o que falhou na nossa candidatura.
Morreu a ideia de Moçambique voltar a candidatar-se para um CAN posterior?
É difícil, porque uma das questões com que nos batemos na altura foi a necessidade de fazermos uma rotação de organização do CAN por zonas. Agora é na zona 6, em Angola, teríamos que esperar que o CAN fosse a outras zonas e que voltasse para que haja candidaturas da zona 6, e isso talvez lá para 2018, 2020. Acho que é prematuro falarmos disso. Mas até lá já teremos estádios suficientes e em condições de acolhermos um CAN e aí podemos já pensar em nos candidatar.
Teremos o Mundial de 2010. Continua a não haver uma clareza de como o nosso país pretende tirar proveito dessa competição…
Não concordo com isso. Do ponto de vista desportivo estamos onde devíamos estar. Estamos entre as melhores 20 selecções de áfrica. Estamos ainda a disputar a qualificação para o mundial de 2010. aí não há dúvidas nenhumas que a selecção está onde devia estar. O aproveitamento do mundial 2010 não está no plano do Ministério da juventude e Desportos, mas sim sob custódia do Ministério do Turismo.
Jeremias Langa