O fenómeno do “take-away” de madeiras não se restringe a Moçambique. Os contornos do crime ambiental que decorre na província moçambicana da Zambézia e que foi denunciado por ambientalistas em relatório da autoria de Catherine Mackenzie, envolvendo empresas madeireiras chinesas, repetem-se numa outra parte do mundo, com a agravante deste novo crime ocorrer em “zona protegida” da velha Europa. Estamos a falar de Portugal, o famoso país à beira-mar plantado, mas muito maltratado.
Em vez de chineses, propalam os autores do crime estarem ligados a espanhóis os donos do “take-away” a funcionar na costa portuguesa. Mas tal como o “take-away” chinês da Zambézia, há conivências de pessoas influentes da terra e as autoridades também fecham os olhos perante o calamitoso desastre ambiental. Mais grave ainda, o poder central, perante a tolerância do poder local e das autoridades do ambiente e das florestas, escusa-se a intervir num interminável “passar de bola”.
Em vez de chineses, propalam os autores do crime estarem ligados a espanhóis os donos do “take-away” a funcionar na costa portuguesa. Mas tal como o “take-away” chinês da Zambézia, há conivências de pessoas influentes da terra e as autoridades também fecham os olhos perante o calamitoso desastre ambiental. Mais grave ainda, o poder central, perante a tolerância do poder local e das autoridades do ambiente e das florestas, escusa-se a intervir num interminável “passar de bola”.
A máxima de Harry Truman de que “a bola pára aqui”, tarda em ser posta em prática em terras lusas onde tudo é possível, desde a impunidade e o abuso de poder à destruição de serras e montanhas que passam a pedreiras em zona turística por excelência, como é o conhecido caso da Serra de Monchique no barlavento algarvio, sede das afamadas termas com o mesmo nome que desde há um bom par de anos passaram a coabitar com camiões e bulldozers num vaivém incessante para o transporte de cascalho, brita e também granito.
O Crime
No passado dia 3 de Agosto, camiões gigantes para transporte de longo curso de 30 toneladas chegaram à pacata localidade algarvia conhecida por Vale da Telha, inserida num extenso Parque Natural com paisagem (des) protegida intitulado Costa Vicentina.
Feito o levantamento das árvores existentes, deu-se início ao abate dos eucaliptos começando por invadir uma propriedade privada com o seu dono ausente, serrando a eito muitas centenas de árvores de médio porte e cerca de meia centena consideradas ornamentais com diâmetros superiores a 50 cms.
Nessa propriedade saqueada o crime rendeu cerca de 22 camiões longos, carregados com toros cortados com 2.30m de comprimento. Como que a justificar a indiferença que manifestam por mais este crime ambiental, as autoridades portuguesas esgrimem o argumento de que o eucalipto é uma “espécie indesejável” ao ponto de classificarem-na como árvore sem qualquer protecção no Parque Natural da Paisagem Protegida da Costa Vicentina.
Contrariando estudos de cientistas, essas autoridades olham o eucalipto como uma “árvore que destrói tudo”. O eucalipto é uma árvore considerada especial. Conhecem-se seiscentas espécies e continua-se a identificar novas que aparecem.
Muitas delas nascem espontaneamente, desenvolvem-se e multiplicam-se em solos muito pobres carentes de nutrientes, nomeadamente nitrogénio e fosfatos e naqueles considerados impróprios para qualquer tipo de agricultura apenas necessitando para se fixarem exíguos cursos de água próxima, mesmo que sejam sazonais, em lugares que nada se cultiva, como é o caso do saque perpetrado no Vale da Telha, que além de inserido num Parque Natural é simultaneamente a maior urbanização da Europa com 550 hectares de superfície.
Para além de fins ornamentais, o eucalipto do Vale da Telha torna o local aprazível, especialmente na época quente do Verão. Defendem os especialistas nesta matéria que não se deve confundir os eucaliptos especialmente plantados massivamente para a indústria da celulose ou produção de lenha que pelo seu elevado número num espaço restrito absorve a quase totalidade da humidade existente nessa área, com aquelas que por obra do acaso da natureza ou propositadamente para uma determinada finalidade, nascem ao longo de cursos de água mesmo exíguos e sazonais ou aqueles que a mão do homem faz nascer e crescer aqui e ali de modo a tornarem-se imponentes e frondosas árvores para eficazes e únicas cortinas contra o vento, para protecção de culturas e habitações, além de poeiras atmosféricas, idem drenar pântanos e em muitos casos controlar as zonas húmidas de proliferação de mosquitos, suster arribas e dunas de areia e conter a fúria do mar etc.
Canal de Mocambique
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