segunda-feira, 1 de junho de 2009

Transportes públicos melhoram vida em Maputo



Mas "chapas" acham que é só "força de soda".
Um visível reforço dos transportes públicos em Maputo está a melhorar a vida de milhares de cidadãos, com as autoridades a afastarem o perigo de rebelião idêntica à de 2007, mas que as transportadoras privadas consideram ser só breve "força de soda".

A 05 de Março de 2007 Maputo acordou debaixo de fumo de pneus queimados, carros e lojas vandalizados e vias de acesso literalmente cortadas por barricadas e multidões, maioritariamente de jovens, armados de paus e outros objectos.

Pelo menos cinco pessoas perderam a vida e mais de 40 ficaram feridas por causa dos distúrbios, provocados pelo aumento do preço dos "chapas", como são conhecidos os pequenos autocarros de 15 lugares usados por operadores privados de transporte público em Maputo.

A seguir às escaramuças, o Presidente da República, Armando Guebuza, demitiu o ministro dos Transportes e Comunicações, António Munguambe. O novo titular da pasta, Paulo Zucula anunciou a compra de 100 novos autocarros pela empresa Transportes Públicos de Maputo (TPM), 81 dos quais ficaram em Maputo e 19 foram distribuídos por algumas das principais cidades do país, que também conheceram a instabilidade devido à crise dos transportes.

O porta-voz da empresa TPM, Boaventura Lipanga, disse à Lusa que a empresa investiu 15 milhões de dólares (cerca de 11 milhões de euros) na aquisição dos 100 autocarros, aumentando a sua frota para 138 unidades.

"Com a actual frota cobrimos todas as áreas da cidade de Maputo e arredores. Se não fosse o intenso tráfego diminuiríamos ainda mais o tempo de espera nas paragens", acrescentou Boaventura Lipanga.

A transportadora subsidiada pelo Estado moçambicano também introduziu a "carreira-expresso" nas rotas mais movimentadas, "para utentes com mais pressa de chegar ao destino", pois os autocarros mobilizados nesses trajectos apenas param em metade das paragens que devem ser cumpridas pelas carreiras normais.
O esforço na melhoria do sistema de transportes em Maputo depois do "05 de Março" não passa despercebido aos moradores do município e arredores.

Lulu Massango, residente no bairro de Magoanine-CMC, considerado pela polícia um dos epicentros da rebelião contra os "chapas", é um dos rostos da satisfação pela colocação de mais transportes em Maputo.

"Antes do dia 05 de Fevereiro, não conseguia sair de casa para o serviço com apenas 10 meticais (0,26 euros), que se gastam agora numa viagem de ida e volta num autocarro", compara Lulu Massango.

"Os chapas encurtavam as rotas. Isso obrigava-me a sair de casa com pelo menos 30 meticais por dia (0.80 euros). Com os TPM, são só 10 meticais, apesar das enchentes nas paragens, porque todo o povo quer TPM", afirma.

Mas a maior procura dos transportes geridos pelo Estado, devido à vantagem do preço reduzido, impõe um maior esforço a muitos dos seus utentes.
"Durmo apenas umas quatro horas. Porque chego à casa as 23:00 e acordo por volta das 4:10, para chegar a tempo de apanhar um TPM, porque os 'chapas' encurtam as distâncias", conta Enosse Macuácua, funcionário do Estado na capital do país e residente no bairro Nkobe, município da Matola, cerca de 25 quilómetros de Maputo.

Enquanto não se diminui o tempo de espera por um autocarro, as principais paragens da cidade de Maputo assemelham-se a verdadeiros comícios, sobretudo nas horas de ponta, propiciando a acção de carteiristas e ladrões de telemóveis.

"Todos que estão na paragem sabem que alguém será roubado nos empurrões para conseguir assento no “machibombo”. Só não sabemos quem será roubado", comenta um homem, que aguarda por um "Anjo Voador-T3", um "chapa" que faz a ligação entre esses dois terminais.
Quem se mostra céptico em relação ao esforço financeiro do Governo nos TPM é o presidente da Federação Moçambicana dos Transportes Rodoviários (FEMATRO), organização que congrega os transportadores privados, Rogério Manuel.

"Isso de comprar mais e mais autocarros para a empresa TPM é força de soda. É como o gás da Coca-Cola, que logo desce para baixo. Esses autocarros irão logo parar às oficinas, devido à má gestão nessa empresa", considera Manuel.

Para o presidente da FEMATRO, uma solução sustentável para se evitar um novo "05 de Março" passa pelo envolvimento do sector privado na gestão da empresa TPM e no provimento dos serviços de transporte.

"Aquilo devia ter uma gestão mista, para que haja uma maior responsabilidade. Ninguém responde pelos prejuízos que a empresa TPM acumula. Isso não aconteceria, se a gestão fosse também privada", frisou Rogério Manuel.

Fonte: LUSA 23 Maio 2009

Um comentário:

Bianca disse...

Que saudades de Maputo!