segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Economia está a crescer "a duas velocidades", Paula Carvalho e Lara Cordovil Wemans


A economia moçambicana vai ser impulsionada por novos grandes projectos ligados ao investimento estrangeiro, mas o pouco dinamismo dos sectores de trabalho-intensivo criam uma possível situação de crescimento económico a "duas velocidades", afirmam analistas do BPI.


"Os sectores capital-intensivo, sobretudo os megaprojectos, estão a crescer a um ritmo significativo, suportados também pelo forte influxo de investimento directo estrangeiro. No entanto, os sectores mais de trabalho-intensivo, aqueles que maior impacto teriam na redução dos níveis de pobreza da população, registam ainda pouca animação", referem os analistas de Estudos Económicos e Financeiros do banco, no último relatório sobre Moçambique.
"Apesar do crescimento significativo ao longo da última década (...) o dinamismo não é homogéneo entre todos os sectores de actividade, receando-se que a economia esteja a evoluir a duas velocidades (...) Excluindo os donativos internacionais e os megaprojectos, a economia moçambicana não tem ainda uma base de sustentação suficientemente forte e diversificada - a base industrial quase não existe e a agricultura está ainda excessivamente dependente das intempéries", adiantam as analistas Paula Carvalho e Lara Cordovil Wemans.
Depois dos projectos da fundação de alumínio Mozal e exploração de gás, espera-se agora uma segunda vaga de investimentos, nomeadamente as minas de carvão de Moatize (Tete), novos investimentos no gasoduto da Sasol, e também culturas agrícolas como o tabaco, açúcar ou algodão são procuradas pelos investidores.Já os pequenos empreendedores locais deparam-se com dificuldades no acesso ao crédito, e uma estrutura de custos elevada, devido ao "fraco funcionamento das instituições do Estado, existência de corrupção, índices elevados de regulamentação" e um clima de negócios que, no geral, ainda é adverso.
Para que o crescimento económico tenha reflexos maiores na redução da pobreza, os analistas do BPI defendem que é necessária uma dinamização dos sectores de mão-de-obra intensiva, em particular a agricultura e construção.Apesar da disparidade e dos riscos que permanecem, refere o relatório, o quadro económico de Moçambique é "aparentemente positivo" e até considerado"um caso de sucesso" no contexto africano, com uma evolução da riqueza média por habitante superior à média do continente.
Entre os principais desafios, o BPI identifica o potencial impacto demográfico da pandemia do HIV/SIDA e as tensões e conflitos sociais resultantes das disparidades de crescimento, como os vividos em Fevereiro deste ano devido à subida do custo de vida, que "fazem recordar que o risco político é uma variável a ter em conta, sobretudo face à proximidade de actos eleitorias, e também perante a inflação registada nos bens alimentares".
É também previsível para os próximos anos um redução gradual das ajudas internacionais, importante componente do Orçamento de Estado, que obriga ao desenvolvimento do sector privado, redução da informalidade económica e aumento das receitas do Estado. O BPI é accionista do banco moçambicano BCI Fomento, uma parceria com a Caixa Geral de Depósitos.
Angop 28-Jul-2008

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