Um porta-voz da Presidência da República da África do Sul desmentiu a notícia divulgada a semana passada pelo Canal de Moçambique, segundo a qual a Marinha de Guerra sul-africana havia reabastecido com combustível o navio cargueiro chinês, An Yue Jiang, que transportava armamento para o regime de Harare. Mukoni Ratshitanga, o referido porta-voz, alegou que se estava a entrar naquilo que descreveu como sendo “a época da propaganda”. No entanto, a Marinha de Guerra da África do Sul confirmou que o SAS Drakensberg havia-se feito ao mar quando o An Yue Jiang contornava a costa marítima sul-africana.
Um oficial da Marinha de Guerra da África do Sul disse, no entanto, que o SAS Drakensberg participava em exercícios navais conjuntos com uma embarcação indiana, embora não tivesse sido noticiado na ocasião a presença em águas territoriais sul-africanas de qualquer unidade naval proveniente da Índia. O desmentido do governo sul-africano tem como pano de fundo a má-fé e a atitude ambígua manifestada por círculos governativos da África do Sul em relação ao caso An Yue Jiang.
O cargueiro chinês deixou o porto de Durban sem que tivesse sido reabastecido, o que, em princípio, não lhe permitiria alcançar Luanda, nem tão pouco Ponta Negra. A questão que de imediato se levanta é a de saber quem terá reabastecido o navio chinês. As fontes diplomáticas do Canal de Moçambique insistem que foi o SAS Drakensberg.
Uma outra questão igualmente pertinente prende-se com o facto da África do Sul, apesar de ter admitido publicamente que a sua Marinha de Guerra havia seguido todo o trajecto do An Yue Jiang ao longo da costa oriental e ocidental sul-africana, desde que zarpara de Durban, nada fez para o interceptar e ordenar que acostasse a qualquer um dos portos da África do Sul, não obstante existir um mandado judicial, passado pelo tribunal daquela cidade portuária, exigindo a apreensão do carregamento de armas a bordo do navio da COSCO (China Ocean Shipping Company), empresa estatal chinesa de navegação marítima.
A Avient Air, companhia de aviação zimbabweana que transportou da República do Congo para o Zimbabwe o material bélico descarregado em Ponta Negra pelo An Yue Jiang, desde há muito que mantém estreitos laços comerciais com a África do Sul, incluindo o sector da defesa. O transporte foi efectuado por um Ilyushyn-76 com o número de matrícula Z-WTC. A presença desta aeronave em Ponta Negra é corroborada por fontes fidedignas, que salientam o facto do Il-76 ter chegado àquele aeroporto congolês num voo proveniente dos Emirados Árabes Unidos.
Normalmente, essa aeronave da Avient fica estacionada no terminal de carga do aeroporto de Fujairah, perto de Dubai. O voo da Avient Air de Ponta Negra para Harare foi fretado pela ADAJET, uma empresa de aviação dos SASS (Serviços Secretos da África do Sul), que tem como administrador o antigo director de operações do NIA para a área de Gauteng, Lawrence Pieterse. O NIA, ou National Intelligence Agency, é uma das agências de espionagem sul-africanas. Desde a sua criação em 2004, a ADAJET tem vindo a beneficiar, em regime de monopólio, de voos de carga encomendados pelas Forças Armadas Sul-Africanas e por outras entidades do governo sul-africano. Entre outros, a ADAJET transportou uma grande parte dos boletins de voto para as eleições realizadas na República Democrática do Congo e na Nigéria, com a particularidade dos carregamentos terem chegado depois do fecho das assembleias de voto. De acordo com um relatório do Painel de Especialistas das Nações Unidas sobre a “Exploração Ilegal de Recursos Naturais e Outras Formas de Riqueza na República Democrática do Congo”, publicado em Outubro de 2002, a Avient foi apontada como “estando a violar as Directivas da OECD para as Empresas Multinacionais”.
Concretamente, o painel das Nações Unidas alegou que a Avient havia fornecido meios logísticos militares tanto ao Exército Congolês como às Forças de Defesa do Zimbabwe estacionadas na RDC, contribuindo assim para o conflito neste país. A Avient forneceu tripulações para aeronaves do tipo Antonov 26 e Mi 24 que por sua vez foram usadas em operações ofensivas na RDC numa altura em que aquela transportadora aérea havia sido contratada pelo governo deste país.
O relatório das Nações Unidas que temos estado a citar refere que a própria Avient confirmou, em declarações prestadas aos membros do painel, que havia efectuado voos de carga do Zimbabwe e da África do Sul para a RDC ao longo de vários anos. O relatório acrescenta que a Avient é propriedade de um indivíduo que no passado pertenceu às forças militares do Zimbabwe.
Fonte: canal de Mocambique
Fonte: canal de Mocambique
Nenhum comentário:
Postar um comentário