quarta-feira, 23 de julho de 2008


O modelo de 'grupo pequeno' vem funcionando bem para o G8 As pretensões do Brasil e de outros países emergentes que vêm participando como convidados nos últimos anos das reuniões de cúpula do G8 de se incorporarem ao grupo das potências econômicas mundiais, transformando-o em G13, estão longe de se concretizar, dizem especialistas ouvidos pela BBC Brasil.

Na cúpula que se inicia nesta segunda-feira na ilha de Hokkaido, no Japão, o chamado G5, grupo formado por Brasil, China, Índia, México e África do Sul, estará novamente presente como convidado, como vem ocorrendo regularmente desde 2005.

Esses cinco países possuem 40% da população mundial e tem entre eles potências econômicas como a China, quarta maior economia do mundo, e o próprio Brasil, 10ª economia mundial. Além disso, esses países vêm em sua maioria mantendo taxas de crescimento bem acima da média global.

Mas apesar de comentários isolados como o do virtual candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, John McCain, defendendo a exclusão da Rússia do G8 e a incorporação da China e do Brasil, esta é uma realidade ainda distante, segundo a BBC Brasil ouviu de diplomatas e analistas.

Pequeno clube
"A expansão não é de nenhuma maneira inevitável", observa Christopher Wright, professor de política da London School of Economics e diretor-executivo do G8 Research Group, comunidade acadêmica dedicada a estudar as ações do grupo.
"O modelo de pequeno clube vem funcionando muito bem para os países do G8. Eles sabem que é mais difícil chegar a um consenso em grupos grandes", afirma Wright.

"A inclusão de mais membros também afetaria o poder de todos nas negociações. Os países menores do G8 perderiam especialmente com a expansão. Então eles devem resistir a isso", explica.
Apesar disso, ele vê um reconhecimento cada vez maior dos países mais ricos sobre a necessidade de dar mais voz aos países em desenvolvimento e envolvê-los nas negociações sobre as soluções para os grandes problemas do mundo, pela importância que esses países vêm ganhando dentro da economia global.

Muitos dos países do G8 evitam apoiar ou negar oficialmente a possibilidade de expansão, mas deixam claro que essa não é a prioridade do grupo.
"O G8 precisa se desenvolver para envolver cada vez mais as economias emergentes mais influentes nas discussões sobre os principais temas globais, como mudanças climáticas, segurança energética, desenvolvimento internacional e a economia mundial", disse em uma nota o Ministério das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, em resposta ao questionamento da BBC sobre sua posição em relação à expansão.

A nota da diplomacia britânica deixa claro, porém, que vê no formato atual das cúpulas, com a participação dos países emergentes como convidados, o formato ideal.
"Vemos os convidados do G8 como uma parte importante das cúpulas, particularmente com o grupo de cinco países – China, Índia, Brasil, México e África do Sul", diz o comunicado.
'Sobremesa no banquete dos ricos'

Outros países, porém, são mais claros em suas posições. "Não somos da opinião de que o G8 deva ser expandido", afirma categoricamente Tomohiko Taniguchi, subsecretário de imprensa do Ministério das Relações Exteriores do Japão, anfitrião da cúpula deste ano.
Para Taniguchi, "a beleza das cúpulas do G8 é seu tamanho pequeno”, que dá ao grupo mais agilidade em suas discussões e em sua tomada de decisões. “Uma rede formada por 8 pessoas tem 28 canais de comunicação. Se você aumentar só para dez pessoas, já seriam 45 canais de comunicação".

A cobrança dos países emergentes por uma maior participação nas cúpulas do G8 levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a declarar em diversas ocasiões que não desejava "chegar para a sobremesa no banquete dos ricos" e a ameaçar não viajar ao Japão caso o G5 não ganhasse mais voz.

No ano passado, durante a reunião de cúpula realizada em Heiligendamm, na Alemanha, o comunicado conjunto entre o G8 e o G5 foi divulgado antes mesmo da reunião entre os líderes de ambos os grupos, aumentando a insatisfação dos países emergentes com o tratamento concedido pelos países ricos.
Para Taniguchi, o G8 reconhece que qualquer discussão sobre os problemas globais atuais, seja sobre mudanças climáticas ou sobre a alta dos preços das commodities, deve necessariamente passar pelos países em desenvolvimento, que consomem cada vez mais e também poluem cada vez mais.

Ele diz que o G8 não nega a importância cada vez maior do grupo dos países emergentes, tanto no campo econômico quanto no campo político, mas descarta qualquer mudança na estrutura atual.
"O G8 funciona bem da maneira como é hoje", afirma o diplomata japonês.

Fonte: Rogério Wassermann, Enviado especial da BBC Brasil a ilha de Hokkaido (Japão)

Nenhum comentário: