segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Exportação de madeira não processada é uma realidade


A partir do Porto de Nacala , “A situação já mexe com os operadores nacionais, alegadamente porque o governo e a Frelimo favorecem os estrangeiros, sobretudo chineses e mais uma vez a ADECOR é chamada a intervir”. Digite aqui o resumo do post

A exportação da madeira em toros, não processada, apesar de proibida legalmente pelo governo moçambicano, ainda persiste a partir do porto de Nacala, na província de Nampula, no norte do país.
De acordo com uma denuncia efectuada por alguns operadores madeireiros e pela Associação para o Desenvolvimento das Comunidades Rurais, ADECOR, muitas são as concessões que fazem o empacotamento da madeira em toro e ainda fresca perante olhar impávido das autoridades da agricultura ao nível daquela província nortenha.
Os denunciantes dizem que os operadores nacionais são obrigados a processarem a madeira, mas meia volta os chineses que nem se quer tem uma carpintaria fazem a exportação da madeira em toro e como se não bastasse ainda bastante fresca. Na semana finda, uma brigada ligada ao sector de Florestas, trabalhou naquele distrito, junto dos estaleiros de parte dos exportadores, como é o caso do Tsay, nos arredores daquela cidade ferro-portuária e no local, testemunharam que ainda era feita a exportação da madeira em toros.
Testemunhas que viveram o momento, falaram à reportagem do «Canal de Moçambique». “Eles não fizeram nada, abriram apenas os contentores da frente e os de trás deixaram assim fechados” – disse um dos denunciantes, para depois adiantar que “eles querem apenas nos lançar areia nos olhos, porque depois entraram nos gabinetes e tratam dos assuntos à sua maneira. Foram corrompidos, porque mais tarde, aqueles chineses voltaram a empacotar a madeira e ninguém disse mais nada”.
Num outro desenvolvimento, o nosso interlocutor, que falou em anonimato, disse que “alguns contentores já entraram no porto nas mesmas condições, porque até lá dentro do porto tu vês água que sai dos contentores pelo transpirar da madeira fresca e tudo isso os responsáveis vem e bem”. Outras fontes acusam o governo e o partido Frelimo de estarem a proteger os chineses, porque segundo sustentam “tudo acontece nos olhares deles e nunca fazem nada, mas quando somos nós os nativos é uma guerra.
Apreendem os nossos camiões e nos cobram elevadas multas, o que é injusto”. As acusações vão mais além. “Se os chineses fazem isso é porque alguém forte do governo ou na Frelimo os protege, porque este governo é radical demais”. Aliás “tudo está claro porque muitos dos sócios destes chineses são filhos, sobrinhos e até irmãos de pessoas de grande renome ao nível da estrutura governamental e do partidão”.
A dado passo, as nossas fontes mostraram-se muito mais agastadas com o facto de o governo estar a criar decretos e diplomas ministeriais e até leis sem as cumprirem. “Porque parece que neste país a lei funciona para uns e para outros não”. Segundo dizem os denunciantes “estamos cansados de sermos sacrificados em benefício de um grupo minoritário, porque o que estão fazendo connosco é demais e o governo sabe disso, porque a madeira entra pelos postos de controle internos e sai pelos nossos portos onde o governo diz ter colocado pessoas lá para fazerem o controlo das coisas”. Nos últimos tempos, muitos dos exportadores chineses alugam quintais nos arredores da cidade de Nacala-a-Porto para guardarem a sua madeira até o fim do processo de escoamento e dar entrada no porto. Isto é visível em muitas partes de Nacala-a-Porto.

Os factos
Com a denúncia, a nossa reportagem deslocou-se no terreno, mas os factos começaram a vir a terreiro. Da cidade de Nampula à de Nacala-a-Porto só não vê quem não quer. Viajamos num carro da «Green Timber World», um dos potenciais exportadores da madeira em toro ao nível nacional.
O motorista do autocarro em conversa, durante o percurso de cerca de duzentos quilómetros de estrada que durou acima de três horas, foi-me explicando que nos próximos tempos a «Green Timber World» vai efectuar a exportação de um total de setecentos contentores contendo madeira em toro e fresca para a China.
Perguntamos ao motorista a proveniência da madeira, pelo que ficamos a saber que parte significativa vem da província da Zambézia, através de rotas obscuras e abertas para o efeito. Ao longo da viagem, o condutor foi-nos revelando mais dados. Chegando a afirmar que o empacotamento da Green Timber World, é efectuado no bairro de Muahivire, arredores da cidade de Nampula.
Alegando que “Lá, em Nacala, estamos a evitar incómodo, porque às vezes vem fiscais que não aceitam gorjetas. Mas alguém de lá dentro na Agricultura aconselhou aos nossos patrões para efectuarem o empacotamento da madeira fora de Nacala que é o que estamos fazendo”. Na cidade de Nacala, das investigações feitas pela nossa Reportagem, ficamos a saber que muitas famílias estão enriquecendo com o negócio de aluguer de quintais aos chineses.
Mas também, por ser caro, de momento os chineses estão erguendo estaleiros com muros altamente elevados para guardarem os seus contentores de madeira até a chegada dos navios. Lá, no porto de Nacala, apuramos de alguns funcionários que “o único que não precisa de nada é a Green Timber World porque todos já os conhecemos e os nossos chefes já nos disseram para não os interpelarmos”. Todavia, deslocamo-nos para alguns estaleiros nos arredores da cidade. É um facto, vimos muitos contentores guardados em quintais com muros gigantes que não permitem a visibilidade do exterior.
Chegamos ao estaleiro do Tsay e da JUNMA LDA, onde constatamos a existência de contentores com madeira em toro e empacotado em contentores e prestes a serem exportados. Alguns dos trabalhadores que labutam naqueles dois estaleiros, confirmaram-nos ser para exportação a madeira daquelas concessões e disseram-nos que a exportação é feita em toro e, sobretudo fresca.
Com efeito, disseram-nos que os seus patrões fazem a exportação de madeira da primeira espécie não serrada, com destaque para mondzo, pau-ferro, entre outras espécies da mesma classe.

O papel da ADECOR
Tendo recorrido a todos os mecanismos possíveis para verem ultrapassada a situação, os operadores que cumprem com a legislação andam “chateados com a tendência cada vez mais galopantes do não cumprimento das leis em vigor no país”.
Com efeito, recorreram à ADECOR, Associação para o Desenvolvimento das Comunidades Rurais, com o sentido de, como sociedade civil, ajudar na resolução da contenda. Dai que na semana finda, fizeram uma denúncia concisa na presença de uma inspecção do ministério da Agricultura. Ligaram aos serviços de floresta e fauna e estes nada fizeram. Viram apenas os contentores e voltaram aos seus gabinetes. Segundo dizem testemunhas os fiscais “foram lá e receberam dinheiro e foram embora. Nada fizeram. Nós estamos contra isso. Devem fazer funcionar a lei e não fazem”.
De acordo com uma fonte da Associação para o Desenvolvimento das Comunidades Rurais, ADECOR, algo tem de ser feito para reverter a actual situação, “porque é um bem que está sendo destruindo e as coisas não podem continuar assim, o governo deve cumprir com o seu papel”. A nossa fonte referiu ainda que a exportação feita em toro, prejudica sobremaneira os honestos, porque “as pessoas preocupam-se em cumprir com as leis e como provam factos os outros e os próprios fiscais violam-nas e corrompem-se”.

(Aunicio da Silva)
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