segunda-feira, 29 de junho de 2009

“Juventude e desportos estão num bom caminho”

Carlos Sousa, vice-ministro da Juventude e DespportosCarlos de Sousa analisa com satisfação o mandato que está prestes a terminar
como vice-ministro da Juventude e Desportos. No desporto, diz que o Fut-21 mudou a forma de gerir o futebol. Na juventude, diz que Chókwè e Cheringoma são cada vez mais uma realidade na vida dos jovens moçambicanos

Qual é o balanço que faz deste mandato a nível da Juventude e Des­portos?
De uma forma geral, podemos considerar que o balanço é satis­fatório (...). Pensamos que vamos conseguir cumprir com o progra­ma quinquenal do governo.

Mas esse balanço satisfatório em que se traduz essencialmente? Que o desporto está bem, a juven­tude está bem?

Costuma dizer-se que o bom é inimigo do óptimo. Não, não pode­mos dizer que a juventude e despor­tos estão bem. O que nós podemos dizer é que, com base naquilo que foram as nossas expectativas do programa quinquenal do governo (...), tudo indica que estamos clara­mente a avançar.

Vamos começar pelo desporto, que é o de massas como se costu­ma dizer. quando olhamos para os resultados que foram feitos pelas nossas equipas, de um modo geral, exceptuando o basquetebol em se­niores femininos onde, a nível das equipas, conseguimos ser campe­ões, o hóquei em patins e as artes marciais, globalmente o desempe­nho continua muito fraco…

Depende da perspectiva com que analisamos o sector. e, de facto, o sistema desportivo e a maneira como foi organizado no passado e como foi evoluindo até à fase em que estamos hoje leva-nos a pressu­por que há alguns parâmetros de sustentabilidade básica que estão garantidos.

Falamos em termos de resulta­dos…
...Reforçou-se o trabalho a nível dos sub-18 e sub-16, a nível desporti­vo. Ea questão que se coloca tem a ver com as selecções nacionais que são o reflexo de algum trabalho de base. Nós vamos concluir este ano uma das duas tarefas que ainda não estão concluídas, que é o que fazer com os escalões de formação. E, a nível da alta competição, estamos a obter resultados interessantíssimos, isso no caso do futebol. Nós esta­mos em 80o lugar no ranking da FIFA e estamos no número 19 no ranking da CAF. Enão foi uma su­bida brusca, foi uma subida paulati­na, que nos dá a imagem de alguma sustentabilidade de crescimento do futebol moçambicano. (...) penso que há claras indicações de que há um trabalho que está a ser feito com os resultados que a selecção de basquetebol de sub-16 está a ter no Zimbabwe. juntando com os resul­tados que as selecções de sub-20 de basquetebol, quer em masculinos como em femininos, tem tido nos jogos da CPLP e nos jogos da re­gião, temos um indicativo de que há um trabalho que está a ser feito e que tem que ser continuado e sus­tentado.

FUT-21 como viveiro de talentos
Em Outubro de 2006, o Con­selho de Ministros aprovou um programa de revitalização do des­ porto, que é o chamado projecto FUT-21. Qual é o alcance deste projecto.
O grande alcance, neste mo­mento, é que conseguimos abran­ger 33 distritos do nosso país. e, o que queremos é consolidar este projecto, pelo menos nestes 33 distritos, de uma forma centrali­zada.

E qual é o objectivo concreto deste projecto.
O objectivo concreto é dinamizar todo o futebol competitivo a nível dos escalões de formação. O pro­jecto FUT-21 marca uma grande viragem no desporto nacional. É a primeira parceira, pública e pri­vada, do desporto moçambicano, que nós conseguimos manter de forma sistemática e com auditoria independente de todo o processo de trabalho. ogrande objectivo é organizar, orientar, ver, pesquisar talentos e canalizá-los para a alta competição.

A Federação Moçambicana de Futebol tinha um contrato com o estado no valor de 20 milhões de meticais, no âmbito desse FUT-21. Na realidade, a maior parte deste bolo vai para as viagens, pagamen­tos de prémios, enfim…

Uma coisa é o contrato-programa com a Federação, com base naquilo que está estipulado, quer na lei do desporto, quer no regulamento. nós só assinamos contratos com Federações bem organizadas e a Fe­deração de Futebol é uma delas e, quando fazemos esse contrato-pro­grama, fazêmo-lo com base num orçamento que é debatido durante muito tempo, no qual fica claro o que é que o governo cobre e o que a Federação cobre. Eisso é o que deve ficar claro para todos. O go­verno comparticipa nas execuções das actividades da Federação.

Isso é no âmbito do projecto FUT-21.
Exactamente. Porque o projecto FUT-21 prevê, claramento, o desen­volvimento de uma base massiva de talentos. e, no que diz respeito à alta competição, há parceiros que querem investir na imagem da selecção nacional, mas também há outros que querem investir na qualidade de formação. Para além disso, há uma parte dos fundos dos parceiros que vai para as selecções nacionais e a outra vai para o desen­volvimento.

Qual é o alinhamento dos clubes em relação a esse projecto FUT-21.
Na realidade dos clubes moçam­bicanos, na fase em que estamos de desenvolvimento, da incapacidade económica real, temos algumas di­ficuldades em desenvolver. Portan­to, o recurso inevitável da base mas­siva do desporto é o escolar. Tanto a Copa Coca-Cola como os jogos escolares e o desporto comunitário são objectivos do FUT-21 e funcio­nam como viveiros.
Temos estrutura a nível das esco­las para garantir que estes talentos possam ser talentos já lapidados?

Temos alguma base de trabalho. Só nesses quatro anos e meio de mandato, nós formámos cerca de sete mil e quinhentos técnicos, árbi­tros e dirigentes de diversos níveis. Por outro lado, a nível das escolas, existe uma grande base de trabalho que são os professores de educação física e Desportos (...).

Onde cabem os clubes neste projecto? Alguns deles não são auto-sustentáveis, vivem às custas do Estado directa ou indirecta­mente. Qual é o real futuro destes clubes?
Eles não vivem directamente do orçamento do estado. Vivem mais indirectamente do que directamen­te. São clubes que têm acordos de trabalho com algumas empresas públicas e outras privadas...

Olha-se, por exemplo, para o Maxaquene e o Costa do Sol... sem LAM e EDM não sobrevivem...
O que nós temos que garantir é a transição e esses clubes têm acor­dos com empresas que os patroci­nam e têm que procurar garantir a sua sustentabilidade. Eles devem organizar-se de forma a ter essa sus­tentabilidade. A nível da alta com­petição, há regras que devem ser respeitadas e o papel do governo é exactamente garantir e facilitar que essas normas sejam cumpridas.

Futebol profissional na liga
O nosso futebol é profissional ou é amador?
Aquilo que está escrito no estatu­to da Liga Moçambicana de Futebol é que os clubes que participam no Campeonato Nacional de Futebol têm obrigações fiscais e têm obriga­ções com o Instituto de Segurança Social. Por outro lado, na nova lei do trabalho, um dos aspectos que está a ser trabalhado é a regula­mentação do trabalho desportivo. A partir do ano passado, foi criada a inspecção-geral da Juventude e Desportos. Euma das suas funções é inspeccionar o cumprimento des­ta e outras regras vigentes no regu­lamento do desporto.

E os clubes já estão a assinar es­sas obrigatoriedades?
Claro que já começaram a assi­nar. Não temos informações de que todos estão a assinar. Mas cabe à inspecção, quer de seguros, quer do Ministério, quer dos outros órgãos, verificar se isso está a ser cumprido ou não.

Modalidades prioritárias
No quadro do desporto de alta competição, estão definidas qua­tro modalidades como prioritá­rias: futebol, basquetebol, atle­tismo e voleibol. Quais foram os pressupostos para a escolha destas modalidades?
Quando introduzimos isso no plano quinquenal do governo, ti­vemos um debate onde envolvemos jornalistas desportivos, académicos e o movimento associativo despor­tivo. Um dos pressupostos básicos que tivemos foi encontrar critérios objectivos que permitissem que as modalidades prioritárias não de­pendessem de quem está hoje ou quem estará amanhã no poder. (...) nós escolhemos aquelas que acha­mos que têm objectivos dentro do ciclo olímpico e isso está patente até no BR.

No que diz respeito ao hóquei em patins, a selecção foi campeã do grupo B e agora vai partici­par no mundial do grupo A, mas vai com as mesmas incertezas de sempre: falta de preparação, etc. Como é que isso faz sentido?
Não, isso não faz sentido. mas essa é uma pergunta que tem que ser dirigida aos praticantes da mo­dalidade, clubes envolvidos, diri­gentes da Federação, associações

“É difícil resolver problemas de jovens”
Como é que o estado olha para o hóquei em patins? Parece que é uma modalidade amada fora e des­denhada aqui internamente...
Nós olhamos para o hóquei como uma modalidade de prestígio para o país e uma modalidade que tem tido algumas dificuldades de fazer face, mas que tem tido algum apoio. Organizámos alguns cursos de treinadores e árbitros para esta modalidade e temos vindo a levar a cabo projectos de iniciação desta modalidade a nível do país (...).

Nesse ambiente, em 2011 tere­mos o campeonato do mundo do grupo A de hóquei em patins. confirma isso?
Sim, nós confirmamos isso. Rece­bemos essa informação da Federa­ção Internacional de Rincock e sa­bemos que por parte da Federação Internacional de Patinagem existe essa intenção e, agora, teremos a confirmação na Assembleia-Geral, que terá lugar antes do mundial da Espanha.

Modelo de gestãodo Estádio Nacional
Na área de infra-estruturas, o destaque deste mandato vai, sem dúvidas, para a construção do Estádio Nacional. Aquando da candidatura de Moçambique para organizar o CAN de 2010 estavam projectados três estádios, nas três zonas do país e acabou ficando-se num, porquê?
A nível de infra-estruturas, antes de apoiarmos a candidatura da Fe­deração, fizemos um estudo de que tipo de infra-estruturas queríamos no país e chegámos à conclusão de que precisávamos de infra-estrutu­ras de raiz, a nível do futebol, com uma área de um centro de manu­tenção física, zona para teatro ao ar livre e outras áreas (...). Após fa­lharmos o CAN 2010, desapareceu a urgência de financiamento de uma forma global. Mas o projecto continua e agora está em curso a construção do Estádio Nacional e estamos a fazer reservas de onde serão construídos os restantes dois estádios.

Como é que está o projecto da construção do Estádio Nacional?
Os prazos estão a ser cumpridos.neste momento, concluímos todas as fundações do Estádio. 850 esta­cas já foram montadas. Já estamos na fase avançada das bancadas da zona Oeste. O primeiro e o segun­do piso já estão completos e agoras estamos a fazer conferragem do ter­ceiro piso, há uma parte das bilhe­teiras que já está pronta… Portanto, podemos dizer que o Estádio está numa fase muito boa e bastante in­teressante de ver.

ChókwÈ e Cheringoma com seguimento
Jovens continuam, desde a Con­ferência de Chókwè, de Cheringo­ma, a falar dos mesmos problemas: emprego, habitação, ocupação. O que foi feito nesta área?
A nível do governo no geral há uma série de actividades feitas cujo objectivo principal é o sector da juventude. A educação e a expan­são de todo o sistema de educação, com a criação de oportunidades de acesso ao ensino superior em todo o país (...). Há um movimento que só tem três anos praticamente, que é da iniciativa dos estudantes fina­listas das universidades em Maputo, mas que já escalou todas as 10 pro­víncias, no âmbito do projecto de férias passadas nos distritos. Têm-se feito um esforço enorme a nível dis­trital para a criação de condições de habitabilidade para os licenciados, quer também de criação de postos de trabalhos. Antigamente, eram os médicos que iam a essas províncias, mas hoje já encontramos engenhei­ros civis, juristas, juízes, procura­dores e muitos licenciados que vão para esses locais.

Nos distritos, encontramos jo­vens desencantados porque não têm oportunidades, empregos, não têm um conjunto de situações…

A pressão sobre o emprego é grande. Há esforços que estão sendo feitos, não só pelo Instituto Nacional de Emprego e Forma­ção Profissional, mas também a nível do Ministério da Juventude e Desportos. Nós temos procurado potenciar o associativismo através de pequenas injecções financeiras, onde apoiamos o desenvolvimento de auto-emprego nos jovens.

Há evidências de empregos que tenham sido criados a partir des­ses projectos?
Sim, o Instituto Nacional de Em­prego e Formação Profissional levou a cabo um levantamento de todas as províncias do país das necessidades de formação e gestão de pequenos negócios, em carpintaria, electrici­dade, e outros cursos de formação de jovens. etemos uma outra forma de apoiar essas actividades que é a vertente de micro-créditos dirigi­dos a jovens empreendedores indi­viduais (...).

Acha que as premissas que fo­ram lançadas em Chókwè começa­ram a concretizar-se?
Sem dúvidas nenhumas e Cherin­goma deu um salto mais em frente em relação a essas premissas.

A agenda de programas é siste­maticamente a mesma…
Sabe o que isso significa? Signi­fica que os problemas de emprego, educação, saúde e habitação ainda não estão resolvidos. E é difícil re­solver. Acredito que nenhum país
vai aparecer a dizer que resolveu to­dos esses problemas da juventude. O que nós dizemos é que há esfor­ços que estão a ser levados a cabo, quer na área de emprego, auto-emprego e sua promoção, quer na área da saúde e habitação, e o que é fundamental é que essas políticas, de facto, atinjam os jovens. O que possibilite que esses jovens tenham acesso a esses empregos.

Os jovens sentem que este Minis­tério da Juventude e Desportos é o seu Ministério?
O Ministério da Juventude e Des­portos? Sim, eles sentem. Nós te­mos tido a preocupação de promo­vermos encontros com associações juvenis nos distritos e interagimos com eles e sentimos, da parte dos jovens, uma disponibilidade em nos apontar aquilo que não está a ser feito e como devia ser feito e existe um diálogo franco e siste­mático com eles (...). A nossa luta é exactamente essa, é termos uma interacção com os jovens, com as as­sociações juvenis, com os conselhos provinciais da juventude, para que, de facto, mantenhamos essa ponte e esse diálogo permanente.

CAF tem que explicar falha na candidatura do CAN 2010
O que terá falhado para que a nossa candidatura à organização do CAN 2010 não passasse?
Creio que não falhou nada. O que aconteceu é que para a can­didatura tínhamos que seguir certos parâmetros e nós seguimos e apresentámos todos eles. Estavam presentes outras candidaturas e a Confederação Africana de Futebol (CAF)decidiu-se por uma das candidaturas. E a CAF nunca nos disse o que falhou na nossa candi­datura.

Morreu a ideia de Moçambique voltar a candidatar-se para um CAN posterior?
É difícil, porque uma das questões com que nos batemos na altura foi a necessidade de fazermos uma rotação de organização do CAN por zonas. Agora é na zona 6, em Angola, teríamos que esperar que o CAN fosse a outras zonas e que voltasse para que haja candidaturas da zona 6, e isso talvez lá para 2018, 2020. Acho que é prematuro fa­larmos disso. Mas até lá já teremos estádios suficientes e em condições de acolhermos um CAN e aí podemos já pensar em nos candidatar.

Teremos o Mundial de 2010. Continua a não haver uma clareza de como o nosso país pretende tirar proveito dessa competição…

Não concordo com isso. Do ponto de vista desportivo estamos onde devíamos estar. Estamos entre as melhores 20 selecções de áfrica. Es­tamos ainda a disputar a qualificação para o mundial de 2010. aí não há dúvidas nenhumas que a selecção está onde devia estar. O aprovei­tamento do mundial 2010 não está no plano do Ministério da juven­tude e Desportos, mas sim sob custódia do Ministério do Turismo.

Jeremias Langa

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