segunda-feira, 22 de junho de 2009

Ualalapi está gravado nos anais da arte. Um dos melhores livros do Século XX


O livro “Ualalapi” de Un­gulani Ba Ka Khossa, publicado pela primei­ra vez em Maputo em 1987, já recebeu vários prémios literá­rios. A obra é um conjunto de “contos contínuos” intitulados “Fragmentos do Fim”.


Nestes fragmentos, combina-se o material histórico-factual, com recurso a fontes tanto escri­tas como orais, e os elementos fictícios. Não é por acaso que a académica Ana Mafalda Leite (1998), quando abordada sobre o livro, tenha referido que com esta obra a ficção moçambicana “ introduz um género que se en­raíza no romance histórico”.

A obra de Ba Ka Khosa ques­tiona o passado e o presente, fa­zendo uma releitura das fontes históricas do século passado. O autor critica o poder político e tenta mostrar como a História pode descrever o uso desses mesmos poderes. Num outro desenvolvimento, Khosa faz uma reflexão sobre as noções de cultura e de identidade cul­tural. Em “Ualalapi” acontece a desmistificação total de um grande herói nacional: o impe­rador Ngungunhane, também conhecido por “Leão de Gaza”.

NARRATIVA
Do ponto de vista narrativo, “Ualalapi” é, como já foi indi­cado, um texto genericamente complexo. O livro abre com uma “nota do autor” em que se situa o protagonista Ngungunhane na história colonial.
A “nota do autor” serve de aviso ao leitor, para que distinga na his­tória do imperador Ngungunha­ne “a verdade irrefutável” daquilo que ainda suscita dúvidas.

Por exemplo, na página 37 pode-se ler: “Tu és Ngunhunha­ne!(...) Aterrorizarás as mulhe­res e os homens!”, em referência ao próprio Ngungunhane e ao império dos nguni. Este trecho representa uma introdução si­nistra à história do personagem Ualalapi, que depois de mandar executar Mafemane, o legítimo futuro rei, de noite desapare­ceu na floresta.

CRONOLOGIA DO REINADO
O livro faz um relato crono­lógico do reinado de Ngungu­nhane, a sua figura e os eventos específicos que ocorriam no seu reino. O sexto texto - que mais interessa na presente análise - dá-nos “o último discurso de Ngungunhane”.

O histórico Ngungunhane era famoso pela resistência que opôs aos portugueses e era con­siderado um líder muito perspi­caz. Foi o último imperador de Gaza.
Na própria história apresen­tada no livro, desfilam vários exemplos documentais como o relato semi-ficcional da vida de Ngungunhane escrito por Kho­sa, mais os elementos míticos e sobrenaturais rebuscados da cultura popular moçambicana.

De referir que o último de todos os capítulos da obra contém ci­tações da Bíblia e de vários do­cumentos da época, de cunho administrativo, bem como as “palavras últimas de Ngungu­nhane antes do embarque”, re­feridas em língua tsonga e na tradução portuguesa.

Prova da importância des­ta obra é que a mesma vai ser editada em língua inglesa ainda este ano por uma das editoras do país, pretendendo fazer che­gar o livro a outros países, neste caso de língua inglesa.

O Pais (Por Edmundo Chaúque)
Leia Entrevista "Escrever e um acto de rebeldia" retirada do Blog Pagina1 (Com a devida venia)


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