domingo, 8 de junho de 2008

Acordo ortográfico cria-me confusão (3)


PORQUE É QUE TENHO QUE SER LUSÓFONA?

Um único instrumento aparentemente une os países que fazem parte da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), o idioma que todos eles têm como oficial. Erradamente, se tem dito que se trata de uma comunidade de mais de 200 milhões de falante. Errado porque, por exemplo em Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor Leste, nem todos têm o português como “sua” língua. Ou seja, o idioma luso não é usado na comunicação pela totalidade dos seus habitantes. Só no nosso país, estimamos que, pelo menos, 30 por cento dos cerca de 20 milhões de habitantes que somos não tem domínio da língua portuguesa.


Polémica dos números à parte, Paulina Chiziane é uma cidadã céptica quanto ao andamento e utilidade da CPLP. “Quando ouvi falar da CPLP antes pensei que era uma coisa bonita, mas hoje cada vez que me falam, falam-me também da lusofonia e por isso chamam-nos cidadãos lusófonos. Eu já sou africana, sou moçambicana, ainda vou ser lusófona? O que é isso? O que é que é que estas organizações querem? Não sei”.

A escritora afirma recear que esta organização e outras similares venha trabalhar na recolonização de uma mente que já está colonizada. “Quando se está na lusofonia, é preciso falar lusofonicamente. Se eu e o meu povo não sabemos falar o luso, como é que vamos falar lusofonicamente? Então, não gosto muito e tenho medo destas instituições”, sublinha.

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