quarta-feira, 4 de junho de 2008

Estatisticas oficiais falam em mais de 27 mil, o número de moçambicanos que regressaram ao país



ESTATÍSTICAS oficiais falam em mais de 27 mil, o número de moçambicanos que regressaram ao país, provenientes da vizinha África do Sul, fugindo da violência selectiva que desde 11 de Maio tem nos estrangeiros o seu principal alvo. Atitude estranha quanto incaracterística, num país que se liga ao nosso por laços tradicionais. Mais estranha ainda se torna esta atitude, quando toda a região vive momentos escaldantes de uma transição para a integração das suas economias, assente na livre circulação de pessoas e bens.

Mais do que resolver o problema que os seus mentores evocam para perpetrá-la, a violência a que os estrangeiros estão a ser sujeitos na RAS começa por ser, ela própria, um problema que se coloca a toda a região austral de África, numa altura em que o ritmo é todo ele a favor do progresso, da unidade e da solidariedade necessárias para fazer da região um bloco coeso e consistente.



O desespero a que a violência remete os milhares de moçambicanos hoje forçados a largar tudo o que construíram ao longo de vários anos de permanência na África do Sul, não pode ser visto apenas como um problema das vítimas, porque rapidamente, as consequências desta desordem social vão se reflectir em todos os países da região, com mais gente a resvalar na pobreza absoluta e muito crime a surgir, cada vez mais, como solução de vida em muitas comunidades.

A instabilidade social que a saída massiva e forçada de estrangeiros na RAS vai gerar em Moçambique, não será, eventualmente, mais grave do que aquela que fica em terras sul-africanas, onde milhares de famílias foram forçadas a desagregarem-se, com os pais de um lado e os filhos do outro, ou com estes simplesmente separados dos seus progenitores.
Numa perspectiva económica, fica também claro que, mais do que os homens e mulheres que, de repente, largaram tudo, compulsivamente, são as empresas de produção de bens e serviços, as farmas, os transportes públicos e privados, as escolas, os hospitais, as pequenas e grandes indústrias que empregam milhares de trabalhadores, que fecharam as portas devido à violência que sacudiu a força que as dava vida.

Na visão dos grupos que olham para os estrangeiros como gente que lhes retira um lugar no emprego, não deve caber a ideia de que por cada trabalho que um estrangeiro garante, gera-se uma cadeia de oportunidades de muitos mais empregos, de crescimento económico que se vai reflectir, em última instância, na melhoria da vida dos próprios sul-africanos. Foi sempre assim e é assim que será sempre.

Pensamos que é tempo de os mentores de toda a violência que envergonha a região inteira, pararem para pensar e ver a profundidade das consequências de tudo o que hoje fazem ou mandam fazer, um pouco por força de emoções, quanto a nós, mal geridas.
Nisto, o nosso papel, como Imprensa, é particularmente sensível porque são os textos que publicamos, as palavras que escolhemos para caracterizar cada episódio, são as fotografias que escolhemos para passar ao nosso público consumidor, que vão ajudar ao mundo a reconhecer o lado errado desta história. É o nosso trabalho que pode ajudar a chamar os mentores da violência à razão, fazendo-os compreender o efeito “boomerang” que a actual situação vai produzir, a curto e médio prazos, na vida de todos e cada país da região.

A nossa educação, como moçambicanos, ensina-nos a não responder o mal pelo mal. Responder violência com violência, nunca foi apanágio dos moçambicanos, razão por que, apesar de toda a dor que as manifestações causaram no seu seio, a resposta tem sido o regresso à casa, deixando para trás os que semeiam a violência, não na perspectiva de abandoná-los, na escolha que fizeram, mas com o intuito de fazer com que eles próprios percebam a irracionalidade da opção feita e aí, voltarem a colocar os pés no chão e aceitar uma vida em comunidade, como aliás vem sendo desde os tempos dos nossos antepassados.

Ainda bem que os moçambicanos têm uma pátria, a mesma que deixaram em busca de melhores condições de vida, e que hoje os acolhe como bons filhos que regressam à casa.
Fonte: Jornal Noticias

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