segunda-feira, 2 de junho de 2008

Os media precisam ir para além dos factos (**)


Devido a onda de xenofobia que se verifica na vizinha África do Sul, o MISA regional, baseado em Whindoek, namíbia, emitiu um comunicado que transcrevemos a seguir. “O Instituto de Comunicação Social da África Austral (MISA) tem estado acompanhar, com muita preocupação, a eclosão de ondas de violência que levam a mortes de pessoas, destruição de propriedade e de tantas outras coisas de valor, tudo contra estrangeiros na República da África do Sul. Essas acções são contra os mais básicos direitos universais à vida e à dignidade, e também se traduzem numa clara violação de declarações e princípios internacionais contra tortura e abusos sexuais.
Há informações indicando que algumas mulheres foram violadas e abusadas sexualmente nesta situação de caos. Vários apelos foram já feitos pelo governo da África do Sul e por líderes cívicos contra todos os actos de violência e de vandalismo que se estão a verificar há cerca de duas semanas. O MISA associa-se a esses apelos e é pelo desenvolvimento de mais acções no terreno para parar-se com a violência. De como as coisas estão neste momento, há necessidade de uma cada vez maior cooperação por parte dos actores políticos, agentes de segurança, líderes comunitários e organismos não governamentais, no sentido de se estancar a onda de violência.


Mais crucial nisto tudo é o papel que os media podem desempenhar na transmissão de mensagens que apelem ao fim da violência, aconselhando os perpetradores desses actos a apresentarem as suas inquietações de uma forma civilizada. Ao mesmo tempo, os media jogam um papel central na disseminação de informações sobre o facto de a violência ser crime, que, como tal, todos os que nela se envolverem serão processados, não interessando o motivo evocado para tal. Na mesma linha, os media precisam de ir para além dos factos em si, indagando as autoridades sobre as acções que estão a ser levadas a cabo, devendo, sempre, usar uma linguagem cuidada, para que se não inflame ainda mais a situação já de si má e grave.
Assim, o uso de expressões como “aliens” – forasteiros, extraterrestres ou opostos – por parte dalguns sectores dos órgãos de informação sul-africanos, em alusão a estrangeiros, deve ser condenado, uma vez que tal representa os estrangeiros como se de a-humanos se tratassem, devendo, por isso, ser evitados. Estrangeiros não são extraterrestres, mas, sim, seres humanos com direitos iguais aos demais, à luz das leis da África do Sul e do Direito Internacional.
O MISA apela, desta feita, à imprensa sul-africana no sentido de cobrir os actos de violência ora em curso de uma forma responsável, ao mesmo tempo que deles se espera que providenciem informação que ajude a “construir pontes” e não a agudizar os actos de violência xenófoba. Os media têm obrigações morais e éticas no sentido de desenvolverem o seu trabalho de forma equilibrada, educando os cidadãos sobre o que de bom se deve fazer.
Tal como o disseram pessoas como o arcebispo Desmond Tutu, a independência da África do Sul foi ganha por todos que estão na África do Sul e à sua volta. Muitos desses vizinhos que estão hoje a ser vandalizados deram as suas vidas por aquele país. É, pois, chegado o momento de se assegurar a independência dos africanos, não somente em termos corporais, mais também nas suas mentes. Nesta ordem de ideias, o MISA apela a todos os media no sentido de envidarem esforços visando acabar com as incompreensões que dão azo a violências xenófobas, não somente na África do Sul, mas em todo o continente africano”.

Fonte : (Kaitira Kandjii - * Director Regional do MISA -
** Titulo da Responsabilidade do «Canal de Moçambique»)

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