segunda-feira, 28 de julho de 2008

Há que inventar “outras” expos


Ver milhares de crianças percorrerem, entusiasmadas, os pavilhões e os espaços temáticos, participar em exercícios e, já à saída, deixarem numa parede um retrato do que melhor resume o que viram na Expo é coisa que toca o coração. Só no terceiro dia do evento, estiveram presentes 9.445 crianças, em representação de 92 colégios, sendo 81 espanhóis, 10 franceses e um marroquino). As autoridades espanholas não têm dúvidas: a Expo-2008 é também uma forma de ensinar as futuras gerações sobre os cuidados a ter com o ambiente.

Martin Escardó, nove anos, aluno de um colégio primário de Madrid foi com intenção de ver Fluvi, um boneco azulado com olhos enormes, a mascote da exposição. Mas encantou-se com o aquário fluvial, o maior da Europa, um espaço de 3.400 metros quadrados onde se pode ver milhares de exemplares de 300 espécies de mamíferos, répteis e anfíbios de diversos rios do mundo. Quem passa pelos pavilhões da Expo-2008 e visita os locais temáticos, não mais se sentirá o mesmo. Os números impressionam.
Martin era um menino sério, principalmente depois de o representante do pavilhão das Nações Unidas, socorrendo-se das últimas pesquisas, explicar que, por exemplo, uma descarga à sanita da sua casa equivalia a 50 litros de água, uma quantidade cinco vezes maior do que um habitante rural em Moçambique tem disponível durante todo o dia.
Ouviu, também, que na Europa uma pessoa gasta em média 575 litros de água por dia quando em Moçambique não passa dos 10 litros, e há países em que a água custa muito mais caro do que uma gasosa ou um sumo. Mas não é tudo. Há, igualmente, países em que as mulheres percorrem oito horas para buscar água, uma distância ligeiramente superior à percorrida de avião de Luanda a Lisboa. Ao Martin também lhe foi dito que até lhe chegar às mãos, um hambúrguer gasta em média 2.400 litros de água (desde a plantação do trigo, produção do pão e da carne, lavagem dos utensílios, entre outros aspectos). Uma camisola gasta até 2.700 litros de água e o computador que tem em casa consumiu, na sua produção, 1 500 litros de água. O pior de tudo é que grande parte da água usada na produção destes bens é doce, propícia para beber. Em todo o planeta, apenas um por cento da água existente é doce.
Durante o tempo em que permaneceu com os colegas e professores no pavilhão das Nações Unidas, ficou também a saber que o homem insiste em utilizar mais as energias de fontes como petróleo, gás e vegetação (chamadas energias fósseis), que chega a representar 92 por cento do total de consumo energético. Este tipo de energia, além de ser mais caro, é mais poluente e não é renovável. A Oikos, no seu pavilhão temático intitulado “Água e Energia”, mostra que existem tecnologias para produzir energia renovável, em quantidades suficientes para toda a humanidade, sem prejudicar o ambiente.
Entre as várias tecnologias de produção sustentável, a Oikos propõe o recurso à energia solar e à eólica (que provém do vento), duas fontes de energia limpa e barata, que já começa a ser disseminada pela Europa. A entrega dos participantes, o crescente número de visitantes e os temas que estão a ser abordados na Expo-Saragoça 2008 vêm dar razão ao presidente da fundação científica espanhola Caja Rural, que disse, ao manifestar a sua preocupação acerca do problema: “Nós também temos de inventar expos”. Pois, e como referiu o politólogo e economista Ricardo Petrella, secretário-geral do Comité Internacional para o Contrato Mundial da Água, “durante milhares de anos, os seres humanos puderam viver sem petróleo, sem transporte, inclusive sem o euro, mas ninguém podia viver no passado, nem poderá viver no futuro sem água”. Afinal, nunca o mundo assistiu a uma corrente tão grande em torno dos problemas com a água no planeta.

Fonte: Cândido BessaSaragoça

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