segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Colóquio Anual da Lusofonia em Bragança


Língua portuguesa em risco?

Mistura com dialectos pode gerar novas línguas e aniquilar o português em países africanos - Linguistas
“É um processo linguístico que vamos ter que acompanhar e lutar para que a língua portuguesa vença, senão aparecerá uma nova língua”, disse à Agência Lusa a moçambicana Edma Sata, estudiosa do vocabulário, que se encontra a participar no evento.

Uma mistura de português e dialectos locais parece estar a gerar um novo idioma em alguns Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e alguns estudiosos temem que, se nada for feito, o português desapareça entre novas expressões. Esta preocupação surgiu em Brangança onde está a decorrer o Colóquio Anual da Lusofonia.

“É um processo linguístico que vamos ter que acompanhar e lutar para que a língua portuguesa vença, senão aparecerá uma nova língua”, disse à Agência Lusa a moçambicana Edma Sata, estudiosa do vocabulário, que se encontra a participar no evento. A linguista está em Bragança para partilhar o trabalho de recolha do léxico das línguas de Moçambique com o Colóquio anual da Lusofonia, que decorre até domingo na cidade transmontana.

Numa altura em que o novo Acordo Ortográfico para os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) domina a discussão, esta estudiosa, citada pela LUSA, entende que, se nada for feito, “qualquer dia terá é que haver um acordo ortográfico a falar das variantes da mistura destas línguas”.

A mistura referida é o que considera a “confusão” em que o que predomina é “o meio português, meio dialecto”, explicou Edma Sata à agência noticiosa portuguesa.

“O português está muito assassinado em Moçambique, por exemplo, dizem descamisados para tirar a camisa, descabelar para cortar o cabelo, conflitar para entrar em conflito ou eu vou ali comprar umas jenessis, uma jeans", exemplificou.

Realidade semelhante é a de São Tomé e Príncipe, segundo outra estudiosa da línguas, natural daquele país, Helena Lima Afonso, que tem explicações idênticas às da colega de Moçambique. O acesso ao ensino da língua portuguesa chegou tarde, depois do período colonial, sobretudo para as populações rurais que sempre falaram os crioulos e que passaram a transferir a estrutura crioula, das línguas africanas, para o português.

“Daqui surgiu um português muito diferente do europeu com muitas interferências das línguas crioulas”, consideraram. “Mesmo os professores falam com essas interferências e passam para os alunos", contou Helena Lima Afonso.

Edma Satar tem exemplos de crianças que conhece, que falavam bem o português até irem para a escola e começarem a adquirir os novos termos. Tanto para Helena, como para Edma só será possível combater a situação apostando mais na formação dos professores e no incentivo à leitura e para isso, entendem que seria importante também contar com o apoio de Portugal. A comunicação social tenta dar um contributo, mas a linguista moçambicana lamentou que, por exemplo, em Moçambique os programas sobre a língua portuguesa passem na televisão em horários em que as crianças ou estão na escola ou na rua.

(Redacção / LUSA)

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