sexta-feira, 4 de abril de 2008

Parabens Angola


A Repúblicade Angola assinala hoje seis anos após a assinatura dos acordos de paz, rubricados entre o Governo e a UNITA, a 4 de Abril de 2002. Tratou-se do termo de uma das mais sangrentas e destruidoras guerras que desarticularam todo o tecido social e económico do país, enlutando milhares de famílias. Uma guerra que reduziu grande parte do país a escombros, tal foi a severidade do conflito que só viria a terminar com a morte, em combate, do ex-líder da UNITA, Jonas Malheiro Savimbi. Porém, volvidos seis anos da paz e como bem disse o Embaixador de Angola em Moçambique, Doutor João Garcia Bires, os angolanos reencontraram-se “e de mãos dadas procuram reerguer o país. Como resultado da guerra, a pobreza é ainda evidente na maioria da população daquele país africano, as desigualdades sociais são um desafio a enfrentar, pese embora a economia esteja a registar um crescimento animador, tendo em conta que a previsão do Produto Interno Bruto (PIB) está acima dos dois dígitos. Só este ano, e de acordo com dados oficiais, o Governo injectou na economia mais de 30 biliões de dólares norte-americanos. Mas para percebermos os contornos desta evolução e progresso que o país está a registar após o fim da guerra, entrevistámos o embaixador extraordinário e plenipotenciário de Angola em Moçambique.

PERGUNTA (P) - Senhor embaixador, seis anos após o alcance da paz em Angola acredita que os angolanos já se reconciliaram?

RESPOSTA (R)- Acredito que sim. Os seis anos passados em perfeita paz e em convívio harmonioso demonstram que nos reencontrámos e de mãos dadas procuramos erguer o país.
P- Que ganhos sociais estão a ser alcançados desde que cessou o conflito no país?

R - Os ganhos são múltiplos, se tivermos em conta o nível de destruição herdado dos trinta anos de guerra, se nessa sanha destruidora incluirmos os efeitos dos danos causados pela agressão directa e direccionada do Exército do Apartheid, o número dos deslocados e dos exilados.

P - Mas os níveis de pobreza ainda são preocupantes em muitas regiões do território nacional. O que precisa de ser feito para que a qualidade de vida dos angolanos se altere para o melhor?

R- Existem planos ambiciosos para se inverter a situação. Há vontade. Procuramos as melhores formas para atingirmos esse patamar. O processo para diminuir o nível da pobreza seguramente é moroso. Pelo pouco tempo da paz decorrido, penso ser compreensível o nível de pobreza que infelizmente ainda existe, se tivermos em conta o grau da destruição a que já me referi, a miséria que os compatriotas encontram nos países acolhedores e as dos deslocados. Por outro lado, não se pode combater a pobreza quando o país, potencialmente agrícola, é um dos mais minados do mundo. Não se pode combater a pobreza quando o reassentamento das populações ainda é uma das preocupações dos governantes. Não se pode combater a pobreza com desejada eficácia sem ajuda externa, só porque, como sói dizer-se Angola é rica.
Igualmente, não podemos olvidar que o início do combate contra a pobreza começa com a entrega do próprio Homem. Ele deverá dominar as ferramentas disponíveis, ao mesmo tempo que as infra-estruturas são reparadas, reerguidas e construídas novas em curto espaço de tempo para que a Saúde, Educação e água potável cheguem no campo e de lá os produtos produzidos cheguem onde são necessários. Nesses cinco anos, se reparar com atenção, verá que houve melhorias e desenvolvimento substancial em alguns sectores. Em paralelo, um esforço financeiro tem sido levado a cabo com o objectivo de se aumentar a capacidade produtora do país para acompanhar a dinâmica que a região vem conhecendo. Nosso desejo é de estarmos em pé de igualdade no comboio do progresso da SADC e da CEAC para ocuparmos o lugar que o país merece.

DAS APOSTAS SOCIAIS AO “BOOM” ECONÓMICO
P- Na Saúde Angola continua a enfrentar problemas de doenças epidémicas que são um revés ao desenvolvimento. Que esforços está o Governo a desenvolver para controlar a situação e assegurar mais saúde às pessoas?

R- Há um programa para melhorar os serviços médicos assim como a assistência médica e medicamentosa. A nível das províncias, graças à pronta colaboração e cooperação com os nossos irmãos vindos de Cuba, aumentámos consideravelmente o número de médicos e especialistas em várias áreas médicas. Os resultados começarão a ser visíveis nos próximos meses.
Porém, acima de tudo, é nosso dever educar o povo de formas a procurar um médico ou um para-médico, deixando assim o hábito de primeiro servir-se da medicina e medicamentos alternativos e só no último caso os médicos com consequências sobejamente conhecidas para a saúde humana.

P- Em apenas cinco anos de paz o país está a registar um “boom” económico dos mais altos no mundo. Onde reside o segredo desse crescimento?

R - O segredo reside na gestão coerente dos recusros disponíveis e sermos nós os mandantes naquilo que achamos útil, urgente e realista, deixando as insinuações muitas vezes fora do contexto e com resutados graves para os nossos objectivos a curto e médio prazos.

P- Que áreas específicas estão a ser privilegiadas na esfera económica?

R- Quase todas, tendo em consideração o alcance dos Objectivos do Milénio. Naturalmente há áreas que pela sua natureza são mais privilegiadas, o que não significa serem mais urgentes para o salto que pretendemos dar.

P- Também a nível da reconstrução pós-guerra Angola está a registar progressos muito notáveis à escala nacional. Que estratégia está a ser perseguida para lograrem este sucesso?

R - Creio que é tendo em conta a realidade do país e conhecermos o que pretendemos, tempo que se leva e que benefícios traz. Em suma ter um programa angolano e para Angola.

P- Do ponto de vista político, acha que o país está saudável como se pode dizer em relação à economia por exemplo?

R - Está. A paz é o reflexo desta vida politicamente sã.

UM FUTURO OPTIMISTA
Há poucos meses das eleições legislativas no país, como analisa o cenário político no país? - eis a pergunta por nós colocada ao embaixador angolano em Moçambique, ao que respondeu:Bom, cheio de esperança e fé, porque o momento é aguardado há já muitos anos.Os diamantes são uma das grandes fontes de riqueza de Angola

P- A paz também propiciou que na frente externa o país consolidasse muito mais as suas posições. Em que áreas se está a desenvolver a cooperação com Moçambique e que ganhos estão a ser tirados dessa cooperação?R- A visita efectuada pelo meu Chefe de Estado em Outubro passado, os acordos e memorandos assinados demonstram claramente os ganhos que os nossos países podem obter.

Recordo-lhe que no mesmo período, os empresários dos dois países tiveram sessões de trabalho e os resultados desse encontro já começam a brotar seus frutos. Como exemplo foi a inclusão de empresários angolanos na visita do ministro das Pescas de Angola e posteriormente a vinda de representantes de empresas pesqueiras angolanas a Maputo para pesquisar a possibilidade de aquisicão de barcos para pesca e a ida de empresários moçambicanos a Angola.

P- Não acha que há ainda áreas que poderiam ser exploradas e que não estão a ser?

R- Acho que sim. Em parte porque não nos conheciámos suficientemente bem. Com a conquista da paz nos nossos respectivos países e na região no seu todo, para além da cooperação bilateral que já ganhou outra dinâmica e voz, também poderemos apostar na cooperação a nível dos PALOP, SADC e CPLP.

No primeiro caso parece-me urgente que a Cimeira dos PALOP tenha lugar o mais rapidamente possível para se redefinir os passos e depois as balizas. No segundo, seria para uma complementaridade e ajustar nossas capacidades na exploração racional e cuidada dos recursos naturais que os nossos países dispõem, especialmente a água e a terra para o bem da região. No terceiro seria de forma criteriosa, no respeito da soberania de cada um dos nossos Estados. Também serve para os outros dois primeiros casos, para uma cooperação que sirva de exemplo e orgulho aos nossos povos, independentemente da capacidade financeira, técnica e outra dos seus integrantes.

Jaime Cuambe

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