sexta-feira, 23 de maio de 2008

Xenofobia na África do Sul: Moçambicanos chegam a Maputo aos milhares


MAIS 3300 pessoas atravessaram ontem a fronteira de Ressano Garcia, em Maputo, fugindo à onda de violência xenófoba que se regista na vizinha África do Sul desde a semana passada. Este número foi registado até às 10.00 horas de ontem, altura em que as autoridades migratória-fronteiriças fizeram o primeiro balanço do dia.

Dados colhidos pela nossa Reportagem no local indicam que, de segunda-feira até aos princípios da noite de ontem, aproximadamente dez mil moçambicanos terão atravessado aquela fronteira, na sua maioria pessoas que, residindo há vários anos na África do Sul, vêem-se na contingência de regressar abruptamente ao país. Com efeito, na segunda-feira passaram por Ressano Garcia 2911 pessoas, e na terça-feira registou-se um movimento de 2725, na sua maioria pessoas provenientes de Joanesburgo. Estes números, segundo soubemos, são apenas de pessoas que se registaram à sua saída, mas as autoridades migratórias dizem que os dados podem estar muito acima daquilo que está registado oficialmente.



A título de exemplo, até à noite de ontem estava-se à espera que chegassem cerca de dez autocarros trazendo pelo menos 700 moçambicanos que haviam se refugiado nas esquadras e outras instituições governamentais e dos direitos humanos na África do Sul.
Contrariamente ao que está a acontecer a nível de entradas para Moçambique, para o território sul-africano quase não está a ir ninguém.
A nossa Reportagem pôde constatar que grande parte das pessoas que entram para o território moçambicano estão afectadas social e psicologicamente pelos acontecimentos na África do Sul. Muitos dos que entram para Moçambique chegam sem nada. Dizem que os seus bens foram pilhados e saqueados por grupos de xenofobistas sul-africanos que lhes intimam a abandonar aquele país, alegando que a falta de emprego para eles é por culpa, sobretudo, dos moçambicanos.

A violência é extensiva a gente de nacionalidades zimbabweana, malawiana e nigeriana, que também é acusada de fomentar a onda de criminalidade e marginalidade na República da África do Sul.
Dada a violência dos acontecimentos, muitos dos que chegam não aventam a hipótese de regressar num curto prazo, apesar de terem perdido quase todos os seus haveres, fruto de vários anos de trabalho árduo.
Sentem-se desolados quando, na sua perspectiva, nada justifica que os sul-africanos cheguem a tirar a vida dos moçambicanos e gente de outras nacionalidades, bem como mutilar membros superiores e inferiores das pessoas.

Contam que os xenofobistas andam em grupos de 20 ou 30 pessoas, armados com paus, catanas, machados, bastões e outros objectos contundentes. E quando chegam a zonas como Alexandra, Soweto, Thembissa e Germiston, locais onde residem muitos moçambicanos, entram nas suas residências e pilham bens e violentam os proprietários das casas.
Há relatos de casos de gente que foi queimada viva nas suas habitações e outra espancada até à morte nas ruas e becos daqueles bairros, depois de os revoltosos se terem apoderado dos seus haveres.
Entretanto, as autoridades moçambicanas na fronteira de Ressano Garcia dizem estar preparadas para fazer face ao fluxo de entradas no país. Disseram estar igualmente a trabalhar em coordenação com os sul-africanos no sentido de controlar a entrada de produtos no país, bem como possíveis oportunistas que queiram aproveitar esta situação para fugir ao fisco.

FRANCISCO MANJATE



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