segunda-feira, 23 de junho de 2008

Crescimento econômico e afinidade cultural levam portugueses a viver em Luanda


A presença de portugueses trabalhando em Angola, atraídos por um forte crescimento econômico e as naturais afinidades culturais, é quase generalizada em todos os sectores da economia do país entre investidores e funcionários. Os números consulares apontam para que os portugueses, contabilizando os luso-angolanos, rondem os 60 mil, mas a emigração directa aumenta diariamente e já é estimada em cerca de 40 mil.


A integração da comunidade portuguesa em Angola é facilitada pela existência de uma cultura comum e a partilha da língua, mas o principal chamariz são as oportunidades que surgem no rastro de um crescimento econômico dos maiores do mundo. A atração que Angola exerce sobre os portugueses que procuram trabalho no país é clara: uma economia crescente nos últimos anos próximo do dois dígitos e ávida de mão-de-obra qualificada que permita dar resposta a este ritmo de crescimento que se sente num milionário programa de reconstrução nacional iniciado com o fim da guerra civil em 2002. Do sector bancário à hotelaria, passando pela construção civil, sistema de educação, comércio e comunicação social, a presença de portugueses é visível como visíveis são os vários constrangimentos que a comunidade portuguesa vive em Angola.
Desde a legalização no país, onde a aquisição de vistos de trabalho é apontada como o principal problema, explicou à Lusa Rogério Lobo, que trabalha numa das mais importantes empresas de construção civil portuguesa em Luanda. Lobo está “há um ano e meio” à espera do visto definitivo, assegurando a permanência através de “sucessivos vistos ordinários” que permitem estar no país por períodos de três meses.

Pedro Gonçalves, empresário português que tem investimentos em vários sectores em Angola, com incidência na área da distribuição, admite que o mercado angolano “é altamente apetecível”, mas destaca que “de ano para ano as dificuldades têm crescido de forma muito significativa”.
“É cada vez mais difícil manter a rentabilidade e a produtividade face à quase impossibilidade de circular com o trânsito de Luanda, a mão-de-obra escasseia à medida que os investimentos crescem, e garantir a presença de expatriados é cada vez mais dispendiosa”, disse Gonçalves à Lusa. E, descrevendo a sua própria experiência, o empresário lembra que para contratar mão-de-obra em Portugal ou em outro país é preciso “meter nas contas a habitação, entre três a quatro mil dólares mensais, carro, porque em Luanda nada se faz sem transporte próprio, e ainda ordenados de acordo com um elevado custo de vida”.

“Depois, no dia-a-dia, a qualidade de vida vem diminuindo na mesma lógica. Se há três anos era fácil contratar uma baby-sitter, hoje isso é uma árdua tarefa, o trânsito em Luanda dissuade as pessoas de saírem de casa, e as extenuantes deslocações de trabalho traduzem-se não só na diminuição da produtividade, mas também na qualidade de vida”, explicou. Para enfrentar estes problemas, algumas empresas, quando pensam em seus investimentos, já têm em conta esta realidade e tentam manter alojamentos dos funcionários integrados às suas instalações.
Exemplo disso é o que se passa com as construtoras. Todas criaram complexos habitacionais para os funcionários, principalmente através de complexos improvisados em pré-fabricados para alojar as centenas de portugueses que desempenham cargos, na maioria, como chefes de equipe nos projetos em curso. Apesar das contrariedades, o embaixador de Portugal em Angola, a poucos dias da comemoração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, destaca “a forma como a comunidade portuguesa se insere em todos os setores da sociedade angolana”. E, paralelamente a esta dimensão sociológica da presença portuguesa no país,

“Angola já é hoje o maior destino das exportações portuguesas para fora da Europa e à frente dos Estados Unidos da América”, frisou Francisco Ribeiro Telles. Segundo Ribeiro Telles, essa dispersão pelo tecido social angolano “deve constituir um instrumento de afirmação positiva da comunidade portuguesa” neste país.

Fonte:Lusa (Ricardo Bordalo)

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