quinta-feira, 5 de junho de 2008

Perdem-se anualmente 219 mil ha de florestas


MOÇAMBIQUE perde anualmente cerca de 219 mil hectares de florestas, o equivalente a mais de 405.500 campos de futebol, devido sobretudo à exploração ilegal dos recursos nelas existentes, à prática de agricultura itinerante e às queimadas descontroladas, segundo resultados do último inventário florestal nacional recentemente encomendado pelo Governo. Foi reconhecendo o impacto negativo que as más práticas produzem sobre o equilíbrio ambiental que Moçambique adoptou para este ano o lema “Não Às Queimadas Descontroladas! Reduza a Pobreza”, para as comemorações do Dia Mundial do Ambiente, que amanhã se celebra.

Segundo dados apurados pela nossa Reportagem, são várias as iniciativas desenvolvidas pelo país fora visando contrariar a actual tendência de desmatação, uma das quais está presentemente em curso em três comunidades do distrito de Cheringoma, em Sofala, onde o Governo local, coadjuvado por algumas organizações de defesa do meio ambiente, disponibiliza terra às famílias para o plantio de árvores, incluindo fruteiras.


Como prémio, cada agregado recebe anualmente 3500 meticais por cada 50 árvores que mantiver vivas, o que, além de estimular o plantio de cada vez mais árvores, leva as famílias a envolverem-se cada vez com maior interesse no combate às queimadas descontroladas, reconhecendo que elas podem destruir as plantas e, consequentemente, reduzir o valor do prémio monetário instituído.

Num outro exemplo de conservação, as autoridades distritais de Cheringoma, em coordenação com os seus parceiros, introduziram um projecto de apicultura, ao abrigo do qual forneceram equipamentos a camponeses de diversas comunidades, que também se envolvem com afinco no combate às queimadas em defesa das colmeias que eles próprios instalaram nas florestas.
Sobre as comemorações do Dia Mundial do Ambiente, cujas cerimónias centrais terão lugar no distrito de Morrumbala, na Zambézia, o Governo refere, em comunicado distribuído à Imprensa, que a ideia é aproveitar o ensejo para sensibilizar e promover acções locais de prevenção das queimadas descontroladas, cujo impacto nocivo se faz sentir de forma particularmente grave nos meios rurais. Segundo o Executivo, as queimadas destroem a flora e fauna, a paisagem, o verde dos campos e fomentam a pobreza nas comunidades.

Sobre a destruição das florestas, o movimento Amigos da Floresta, uma coligação de organizações não-governamentais e pessoas singulares envolvidas na protecção ambiental, considera encorajadora a abertura ao diálogo que vem sendo manifestada pelas autoridades do sector, sustentando que só uma acção coordenada, envolvendo vários sectores e áreas de conhecimento, poderá tornar efectiva a exploração sustentável dos recursos florestais. Segundo Carlos Serra Júnior, activista daquele movimento, o maior problema gerado pelas queimadas não é o fogo em si, mas a frequência e a intensidade com que ele é ateado nas florestas, razão por que o assunto das florestas deve ser visto como um problema do Estado e não apenas de um sector, no caso da Agricultura.

“O maior problema é que não tem havido pensamento integrado. Cada um trabalha com os olhos postos naquilo que lhe interessa. É preciso actuar depressa, porque os erros de hoje podem agravar os problemas da pobreza amanhã, uma vez que a floresta é a fonte da vida. Vamos ter de encontrar modelos adequados para endereçar a questão da educação ambiental, porque precisamos de assegurar que, ensinando boas práticas hoje às crianças, teremos amanhã jovens e adultos com uma postura diferente e mais favorável ao uso sustentável dos recursos”, disse Serra.

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