segunda-feira, 14 de julho de 2008

Consulado moçambicano na RAS prossegue identificação de vítima de xenofobia.


UM moçambicano perdeu a vida recentemente na área de Atteridgeville, perto de Pretória, capital política da África do Sul, atacado por uma furiosa multidão de sul-africanos, no que sugere como sendo parte de ataques esporádicos no quadro do ódio desenfreado contra a presença de imigrantes africanos neste país vizinho de Moçambique.


O capitão policial Thomas Mufamadi, que revelou o facto, informou que os locais, que ofende de destruir uma cabana, espancaram aquele compatriota, que momentos depois se viu em cinza.
Não foi avançada a identidade da vítima, com Thomas Mufamadi a limitar-se a dizer como se tratando de moçambicano, bem como a Polícia como tendo detido três indivíduos, acusados pela morte daquele compatriota.
O bairro de Atteridgeville foi uma das primeiras áreas a ser foco da violência xenófoba em princípios deste ano.

Paralelamente a isso, o cônsul-geral de Moçambique na África do Sul, Luís da Silva, admitiu que está a haver sérios problemas no processo visando a busca de identificação de corpos de imigrantes supostamente dados como moçambicanos, mortos durante a violência xenófoba que a partir de princípios de Abril último fustigou vários bairros localizados nos arredores de Joanesburgo, região onde se encontra concentrada a economia deste país da região.
Em entrevista concedida a jornalistas moçambicanos, Luís da Silva revelou que tais dificuldades têm a sua razão de ser por não haver qualquer meio que sustente a versão policial daquelas vítimas serem realmente de Moçambique.

O diplomata informou que equipas da sua instituição, apoiadas por dirigentes das comunidades moçambicanas, encontram-se a trabalhar em vários pontos nos arredores de Joanesburgo, mas apesar disso estão a enfrentar constrangimentos quando procuram identificar a nacionalidade dos perecidos.
A fonte ilustrou que oito corpos, descobertos há dias em algumas moagens, não permitem que se faca uma identificação precisa. Três dos oito corpos, segundo frisou, têm BIs, mas como esses documentos estão carbonizados não se consegue apurar nada.

Face a esses problemas, o diplomata convidou os que porventura tenham dado os seus entes como desaparecidos para assim darem a sua necessária assistência ao processo.
Alertou que se esses corpos não forem reivindicados pelos seus familiares, ha todo risco de serem com o tempo levados para uma vala comum.
Na entrevista, a fonte informou que até aqui foram identificados 20 corpos de moçambicanos em vários hospitais periféricos de Joanesburgo. O numero pode vir a elevar-se, pois existem muitos corpos por se apurar a identidade.

As autoridades sul-africanas situaram em 11 moçambicanos, cinco zimbabweanos e 21 sul-africanos mortos durante a tensão anti-imigrantes. Sabe-se, porém, que foram mortas 62 pessoas e cerca de 700 contrariam ferimentos durante a violência.

Instado a comentar sobre o inesperado elevado número de sul-africanos mortos durante a tragédia, pese embora tenham sido eles os protagonistas dos tumultos, Luís da Silva admitiu a essa possibilidade, tanto que ultimamente alguns imigrantes já ofereciam certa resistência.
Segundo sugeriu, enquanto os assaltantes iam lançando os ataques, em algumas zonas os locais foram apanhados desprevenidos, porque os imigrantes advertiam que iriam retaliar aos actos.
Como forma de sustentar a tese, no bairro de Vooslarus, os atacantes retiraram-se em debandada quando os estrangeiros ameaçaram que iriam reagir contra as incursões.

Entretanto, enquanto existe esta disparidade em relação aos números dos que perderam a vida, o consulado vai trabalhando no terreno com vista a apurar a identidade daqueles corpos e de tantos outros que de um momento para outro se vão descobrindo. Alguns dos corpos foram já transladados para o país.

Em resposta a uma pergunta sobre o impacto da violência infligida as comunidades moçambicanas radicadas na África do Sul, aquele responsável consular admitiu que os ataques têm reflexo negativo na vida dos nossos compatriotas na terra do rand.
Os assaltos, que esporadicamente tiveram início entre Fevereiro e Marco deste ano a norte de Pretória, capital sul-africana, criaram pânico entre os moçambicanos e outros estrangeiros no país.
Ilustrou que muitos deles morreram e perderam os seus bens, incluindo casas melhoradas. Outra parte regressou a Moçambique, o que significa o aumento do número de desempregados no nosso país.

Pelo menos 40 mil pessoas, de acordo com a fonte, decidiram regressar ao país, situação que para Luís da Silva dificulta o processo da identificação dos perecidos, pois ninguém pode reclamá-los.
Se esses que voltaram às suas origens estivessem na RAS, talvez hoje não teríamos constrangimentos em identificar os mortos.
Luís da silva sublinhou que a violência, que abrangeu sete das nove províncias sul-africanas, não ajuda a relação de amizade entre os povos de Moçambique e África do Sul, que remonta há bastante tempo.

Disse ainda que por o numero dos que regressaram ao país ser tão expressivo, também haverá ressentimento no campo económico do país, bem como para as receitas das suas famílias.
O sustento de milhares de famílias das vítimas da xenofobia dependia inteiramente desses cidadãos que viviam na África do Sul, onde, além disso, contribuíam de forma significa para o crescimento económico do país.

Analistas sugerem que a incerteza criada pelos assaltos e o regresso de milhares de imigrantes terão as suas implicações sobre a actividade económica na vizinha África do Sul.
No seu “tête-a-tête” com a comunicação social, o cônsul-geral de Moçambique na RAS assegurou que, embora os ataques anti-imigrantes tenham reflexos negativos no dia-a-dia dos moçambicanos, mas as suas estruturas continuam intactas em pleno exercício.
Os líderes comunitários estão a trabalhar e a manter contactos permanentes com as instituições moçambicanas acreditadas neste país da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).

Apesar de muitos terem voltado às origens, o movimento associativo dos nossos compatriotas não foi por completo atingido pelos assaltos, acrescentando que se fosse destruído não seria possível o processo da sua evacuação para o país.
Se o Governo conseguiu levar à casa os 40 mil moçambicanos foi graças à existência desses núcleos que registaram os que desejaram regressar a Moçambique.
Pode-se exigir o seu redimensionamento, mas acreditamos que essas estruturas continuam intactas e em pleno exercício.

Secundando a Luís da Silva, o presidente das associações moçambicanas na região de Gauteng (que compreende Pretória e Joanesburgo), Jonas Sitoe, indicou que muitos bairros não foram mexidos pelos ataques, como de Bekkersdal, Soweto, Tembisa, Vooslarus, Randfontein, Mogale City (ex-Krugersdorp) e tantos outros acomodando moçambicanos.

Mesmo em Alexandra, o ponto a partir do qual a violência se foi espalhando por várias zonas de Joanesburgo, a associação de moçambicanos continua a funcionar, de acordo com Jonas Sitoe.
Jonas Sitoe anotou que contrariamente os moçambicanos estão cada vez mais organizados, porque depois da violência aperceberam-se da necessidade de viverem em agremiações.
Se não tivéssemos essas estruturas, segundo viria a concluir, seria catástrofe para os moçambicanos no país.

JORGE DICK, em Joanesburgo

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