segunda-feira, 28 de julho de 2008

CPLP/Marinhas: Governos devem percepcionar poder das Marinhas, diz CEMA português



Os governos, em geral, devem percepcionar que a importância e o poder da Marinha é fundamental para a estratégia de um país, defendeu hoje à Agência Lusa o chefe do Estado-Maior da Armada português.


O almirante Melo Gomes, principal promotor do I Simpósio das Marinhas dos Países de Língua Portuguesa, que hoje termina em Lisboa, adiantou ser essa a "grande conclusão" dos trabalhos do seminário.

A constatação resulta do facto de seis dos oito membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) - Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste - disporem de meios escassos e, nalguns casos, obsoletos, para operações de vigilância e fiscalização das respectivas águas territoriais.

"A melhor Marinha não é a maior, mas sim a que melhor serve o Estado", frisou Melo Gomes, desdramatizando os atrasos naqueles seis países e reiterando a disponibilidade dos restantes dois membros da CPLP - Portugal e Brasil - em cooperar com as Marinhas mais necessitadas.
"Vejo isto como uma oportunidade para que se percepcione que em todos estes países as Marinhas são fundamentais. É essa a grande conclusão que estamos a tirar deste simpósio", sublinhou, insistindo na necessidade de se desdramatizar os atrasos.

"Há que começar. Há que criar a ambição. Sem ambição não há meios e isso é a questão essencial, que o poder político percepcione o poder que as Marinhas têm nos respectivos Estados", fundamentou.
Todos os oito estados membros da CPLP têm vastas costas oceânicas, havendo disparidades muito grandes entre a área territorial e a de teórica intervenção nas respectivas águas territoriais.

São Tomé e Príncipe é o caso mais paradigmático, pois cabe-lhe a fiscalização e vigilância de uma área 162.000 vezes superior à do seu pequeno território (1.001 km2 para 162.000 km2).
Mesmo no caso de Angola, país que já assumiu publicamente que pretende ser uma potência em África, o caso da Marinha de Guerra é outro paradigma, uma vez que os meios são demasiado escassos para uma tão vasta área de vigilância e fiscalização.

Para o CEMA português, mais uma vez, a palavra de ordem é "desdramatizar".
"Há sempre oportunidade para que essas ocorrências assim sejam. Não podemos parar no tempo e desconhecer a história passada, as circunstâncias em que as coisas ocorreram. Temos de enquadrá-las nos seus momentos históricos e projectá-los para o futuro. Por isso, tenho a certeza que Angola, no futuro, terá uma Marinha", realçou.

Sobre a disponibilidade de a Marinha portuguesa continuar a cooperar com as congéneres de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, Melo Gomes condicionou-a à existência de "um desígnio e vontade políticas".

"Desde que haja um desígnio e uma vontade políticas de concretizar estas oportunidades que foram identificadas, claro que estamos disponíveis, dentro dos nossos próprios recursos", referiu.
Sobre a importância de um simpósio desta natureza, o CEMA luso salientou que o que importa é que todos se apercebam que há a necessidade de cooperação comum e uma vontade de desenvolver as Marinhas, "para que possam servir os Estados da melhor maneira possível".

"É nesse sentido que esta troca de experiências e este primeiro simpósio tem uma valia muito importante, porque nos possibilita discutir abertamente, sem complexos, assuntos de interesse comum e vermos as oportunidades de cooperação que depois compete ao poder político concretizar", observou.

"Aliás, este simpósio é apenas uma primeira etapa de um caminho mais longo. Espero que possamos continuar estas acções no futuro", disse, lembrando que Timor-Leste manifestou disponibilidade para acolher idêntico evento em 2010.

JSD
Lisboa, 03 Jul (Lusa) /Fim

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