segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Conhecida a lista nominal dos 9 detidos por ordem da PGR

• Hoje (24/09/2008), na cadeia Civil de Maputo, o juiz Boaventura Kanuna vai decidir o futuro do ex-ministro do Interior na Presidência para os Assuntos de Defesa e Segurança e seus ex-colaboradores A LISTA: Almerino Manheje, Lourenço Jaquessone Mathe, Armando Pedro Muhassine Júnior, Manuel Luis Mome, Luis Rusé Colete, Rosário Carlos Fidelis, Serafim Carlos Sira, Álvaro Alves Nuno de Carvalho e Dionísio Luís Colege


O «Canal de Moçambique» obteve, ontem, de fonte da Procuradoria-geral da República (PGR), os nomes das nove ilustres figuras que desde o princípio da tarde desta última segunda-feira, se encontram encarceradas na Cadeia Civil de Maputo onde o juiz Boaventura Kanuna poderá deslocar-se esta manhã, por volta das 09h00, para proceder à legalização da condição actual dos implicados ou mandá-los libertar pura e simplesmente ou mediante caução ou termo de identidade e residência.

Todos, sem excepção, foram detidos em conexão com o monumental desfalque de 220 biliões de meticais da Velha Família (220 milhões de meticais novos) montante que sumiu dos cofres do Ministério do Interior (MINT), durante a chancelaria do piloto aviador, Almerino Manheje.

Segundo apurou este diário, as detenções ocorreram depois de finalizada a instrução contraditória do caso, que em breve irá a julgamento e, os indícios que culminaram com as respectivas detenções, “são bastante graves”, o suficiente para justificar que “eles só podiam ficar preventivamente detidos”, como nos revelou uma fonte próxima do epicentro do processo em curso.

A operação que culminou com as detenções de Almerino Manheje, Lourenço Jaquessone Mathe, Armando Pedro Muhassine Júnior, Manuel Luis Mome, Luis Rusé Colete, Rosário Carlos Fidelis (Ex Director do Departamento de Administração e Finanças (DAF) do MINT), Serafim Carlos Sira, Álvaro Alves Nuno de Carvalho e Dionísio Luís Colege, foi organizada sujeita a um rigoroso secretismo, mas sem que antes, segundo apurámos, as celas “VIP” da cadeia civil na Av. Kim Il Sung tivessem passado por uma aturada limpeza, a semana passada. Só não se sabia quem seriam os “inquilinos” que iram ser chamados a estreia-las...

Avisos a navegação
Vários círculos de opinião, interpretam a acção da Procuradoria Geral da República (PGR) como um verdadeiro aviso à navegação, especialmente aos “tubarões” da corrupção e do crime organizado. Coube a vez as estes primeiros que até esta segunda-feira eram tidos como “intocáveis”.

Um analista do social moçambicano, disse ao «Canal de Moçambique» que a acção da PGR pode ser o corolário da pressão da comunidade internacional, mas sobretudo dos doadores do Orçamento Geral do Estado (OGE) que nos últimos tempos vinham ameaçando cortar a ajuda ao país caso não se dessem sinais inequívocos de haver vontade política efectiva de se fazer frente ao desvario na delapidação impune do erário público. Aliás, nos últimos tempos, alguns países anunciaram mesmo cortes substanciais ao governo, devido à ausência de acções concretas no combate à corrupção.

O mesmo analista não descarta a hipótese da já conhecida como “a grande segunda-feira”, estar aliada ao “calendário eleitoral que se avizinha” e aos mais recentes esforços de Armando Guebuza sobressair no contexto de um novo mandato a que o Comité Central do partido a que preside acabou de dar o seu aval ao indicá-lo como candidato à sua própria sucessão como Chefe de Estado.

O analista sustenta que esta acção em curso é o mais contundente gesto de concretização do manifesto eleitoral de Armando Guebuza, cujo «combate a corrupção» foi, “se não o maior cavalo de batalha para chegar ao poder”, pelo menos “um dos maiores do seu mandato como Presidente da República”.

Não está, no entanto, a passar despercebido o facto do presidente da República, Armando Guebuza, se encontrar em Nova Iorque a participar na Assembleia Geral das Nações Unidas e como tal longe do epicentro destes inéditos acontecimentos que implicam não só figuras sonantes do regime, como especialmente figuras que são ainda pilares dos interesses de Joaquim Chissano, presidente honorário da Frelimo e antecessor de Guebuza na direcção máxima do partido de ambos.

“A atitude da PGR, só pode ter tido aval do mais alto magistrado da nação. No cenário em que aconteceram, com a ausência do presidente, o PGR tinha garantias para avançar” opina ainda a nossa fonte.
Espera-se, nos próximos dias, novos desenvolvimentos à volta destas detenções.

Joaquim Chissano irritado
Sabe-se, entretanto, que o ambiente politico no seio do Partido Frelimo está agora muito tenso entre as duas grandes facções e para explicar isso está a ser citado pela opinião pública, com muita insistência, o ex-presidente moçambicano Joaquim Chissano por ter dito ontem à televisão pública ser “incompreensível” a detenção na segunda-feira de um seu antigo ministro do Interior, Almerino Manhenje, defendendo que “ele poderia responder em liberdade, pois nunca fugiu do país”.

Manhenje, que dirigiu a pasta do Interior entre 1996 e 2005, em simultâneo com a de ministro na Presidência para os Assuntos de Segurança, foi detido por ordens da Procuradoria da República na cidade de Maputo, alegadamente por envolvimento no desvio de cerca de 10 milhões de dólares ao câmbio actual, mas que na altura seriam mais cerca de 40%.

Comentando a detenção ao canal público Televisão de Moçambique (TVM), Joaquim Chissano, mostrou-se indignado com a detenção do seu principal colaborador em matéria de defesa e segurança.

“Não compreendo isso, porque ele (Almerino Manhenje] nunca fugiu do país e podia responder ao processo em liberdade”, disse Chissano que alegou ainda que “há crimes mais graves em que os envolvidos respondem em liberdade”.

Joaquim Chissano estabeleceu um paralelismo entre o caso de Almerino Manhenje e o processo por corrupção envolvendo o presidente do ANC, partido no poder na África do Sul, Jacob Zuma, mantido em liberdade no decurso das investigações e julgamento, que terminou com a sua absolvição na semana passada. Mas que acabou suscitando também a queda do chefe de Estado, Tabho Mbeki, dando claros sinais da convulsão que gerou a luta palaciana.

FRELIMO
A Por seu turno, o partido no poder em Moçambique, a FRELIMO, de que Chissano é presidente honorário e Manhenje membro sénior, através do seu porta-voz e secretário do Comité Central para a Mobilização e Propaganda, Edson Macuácua, apelou para o imperativo do respeito pela independência das instituições de justiça.

“A FRELIMO respeita a independência das instituições judiciais”, disse Macuácuá, o mais fiel reprodutor do pensamento do chefe de Estado e presidente do Partido Frelimo, Armando Guebuza, quando questionado sobre o impacto das detenções.

Canal de Moçambique (Luis Nhachote e Redacção)

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