UMA nova investigação conduzida na África do Sul pelo Projecto de Migração da África Austral (SAMP) apurou que o elevado nível de intolerância e hostilidade contra os cidadãos estrangeiros foi a razão principal da onda de violência xenófoba desencadeada no país em Maio último.
Mais de 60 pessoas, a maioria das quais imigrantes, foram assassinadas em todo o país durante os ataques contra estrangeiros, que culminou com a detenção de 1384 suspeitos.
As agressões contra as comunidades estrangeiras deixaram dezenas de milhares de imigrantes sem abrigo, como consequência da destruição das suas residências.
O relatório refere que, inicialmente, a onda de violência xenófoba foi considerada como sendo uma
associação de factores, entre os quais a alienação dos sul-africanos durante o regime do “apartheid”, custo de vida e o fracasso do Governo na redistribuição da riqueza, não obstante o bom desempenho da economia sul-africana.
Contudo, o novo relatório revela um cenário diferente e denuncia a intolerância dos sul-africanos contra os estrangeiros.
Para a realização do presente relatório, foram inquiridos um total de 3.600 cidadãos com idade superior a 18 anos em todas as nove províncias sul-africanas.
Os resultados finais revelam um agravamento dos níveis de intolerância, comparativamente a uma análise similar conduzida em 1999.
O estudo apurou que cerca de 76 porcento dos inquiridos exigem a electrificação das fronteiras, enquanto que 65 porcento exige que os refugiados sejam confinados nos centros de acolhimento junto dos postos fronteiriços.
Para metade dos inquiridos, o confinamento dos refugiados não é uma medida suficiente, pois eles defendem que os estrangeiros sejam deportados.
O relatório refere que “os sul-africanos continuam a considerar os cidadãos estrangeiros como sendo uma ameaça contra o bem-estar económico e social do seu pais”.
Cerca de dois terços dos inquiridos argumentam que os imigrantes estão associados ao crime, para além de estarem a se apropriar dos recursos que deveriam ser destinados aos sul-africanos.
Enquanto isso, pouco menos de metade afirma que os estrangeiros trazem consigo doenças para o interior da África do Sul.
Para além dos elevados níveis de intolerância, a investigação revela que os cidadãos sul-africanos também exigem uma legislação mais restrita para a imigração.
O relatório refere que “a proporção daqueles que exigem um banimento total da imigração aumentou de 25 porcento em 1999 para 35 porcento em 2006.
“Ademais, 84 porcento acreditam que a África do Sul está a permitir a entrada de um número demasiado elevado de cidadãos estrangeiros no país”.
Na sua conclusão, o documento refere que “os trágicos eventos de Maio de 2008 deveriam servir de uma chamada de atenção para todos os sul-africanos.
“Todos os culpados da violência xenófoba, no passado e no futuro, deveriam ser severamente penalizados.
“Precisa-se de uma acção urgente, não apenas para evitar a repetição da desgraça, mas para que todos os sul-africanos caminhem de cabeça erguida numa fase em que se preparam para acolher a Copa do Mundo de 2010”.
AIM
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