segunda-feira, 29 de setembro de 2008

À margem dos 40 anos da independência da Suazilândia: Agenda regional reúne Guebuza e Jenday Frazer


O PRESIDENTE da República, Armando Guebuza, reuniu-se sábado (06/09/2008), em Mbabane, Suazilândia, com a Subsecretária de Estado norte-americana para Assuntos Africanos, Jenday Frazer, com quem discutiu a agenda da região da África Austral.

À saída do encontro, que teve lugar à margem das celebrações dos 40 anos da independência da Suazilândia do protectorado britânico e dos festejos do quadragésimo aniversário natalício do Rei Mswati III, Frazer revelou que o Governo do seu país está disponível para conceder assistência técnica ao processo eleitoral de Moçambique, que próximo ano realiza eleições gerais, bem como a outros países africanos.

Jenday Frazer, que considerou Moçambique um modelo exemplar de transição democrática e com uma boa história no que tange a realização de eleições. Disse que todo o apoio que o seu país vier a dar dependerá das necessidades reais de Moçambique, no caso vertente.

O Governo dos Estados Unidos está preparado para dar assistência tecnica não só a Moçambique como a outros países africanos, mas isso depende daquilo que forem as necessidades desses países, frisou.

O encontro entre o estadista moçambicano e a diplomata norte-americana é a continuação de conversações que Armando Guebuza e Jenday Frazer tiveram recentemente em Arusha, Tanzania, em torno da agenda regional da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) e insere-se num périplo que levou a subsecretária de Estado à República Democrática do Congo, Zâmbia e Suazilândia.

Frazer pretendia igualmente deslocar-se a Moçambique, mas aproveitou a presença do Chefe do Estado moçambicano em Mbabane na dupla celebração da Suazilândia para se reunir com Guebuza na sua qualidade de vice-presidente da troika da SADC para Política, Defesa e Segurança, que se reúne esta semana na Suazilândia, pais que preside este órgão na pessoa do Rei Mswati III.

MANIFESTAÇÕES E BOMBAS NÃO ABALARAM FESTEJOS
A Suazilândia parou sábado para celebrar o quadragésimo aniversário da independência e natalício de Mswati III.

Nem as manifestações anti-monarquia e contra a carestia de vida, nem as duas bombas que explodiram em Mbabane na véspera impediram que as celebrações, uma verdadeira festa popular, decorressem dentro da solenidade, normalidade e tranquilidade.

Na realidade, o “Somhlolo National Stadium” foi pequeno para acomodar as mais de 30 mil pessoas que abrilhantaram as celebrações centrais com os seus trajes e contagiantes cânticos e danças tradicionais sabiamente executados pelos seus praticantes.

Todos de tronco nu, homens e mulheres, donzelas e rapazes, bem com crianças, sempre empunhando o escudo de defesa e respectiva lança, exibiram no desfile o que de melhor oferece a cultura e tradição suázis.

Quer nas bancadas, quer no relvado predominavam o azul, amarelo, vermelho preto e branco, cores da Bandeira Nacional, com o característico escudo de defesa e respectiva lança.

À semelhança do que aconteceu a 6 de Setembro de 1968, quando Sobuza II proclamou a independência, numa altura em que o seu filho Rei Mswati III tinha cinco meses de vida, as celebrações deste ano contaram também com a participação de vários chefes de Estado e de Governo da região e do mundo.

Nove chefes de Estado africanos, incluindo o Presidente da República, Armando Guebuza e o Vice-Presidente de Taiwan Vincent Siew, engrandeceram as celebrações com a sua presença. Os Presidentes de Moçambique, Armando Guebuza, o Rei Letsie do Lesotho e o Presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, foram extraordinariamente ovacionados quando deram entrada no recinto desportivo que acolheu as comemorações.

Além destes, também participaram no evento os Presidentes da Tanzania e em exercício da União Africana, Jakaya Kikwete, da Namíbia, Hifikepunye Pohamba, de Madagáscar, Marc Ravalomanana, do Malawi, Bingu Wa Mutarika, do Ruanda, Paul Kagame, do Uganda, Yoweri Museveni, e do Botswana.

ELEIÇÕES PARLAMENTARES PODERÃO OCORRER ESTE ANO

O momento mais esperado nas celebrações foi o discurso do Rei Mswati III. Dirigindo-se à nação, anunciou a realização de eleições parlamentares naquele reino, numa data que não avançou, mas que tudo indica que poderá ser ainda este ano.

Na ocasião, Mswati III apelou aos swazis para elegerem pessoas dignas e capazes de representar e defender os anseios do povo.

Quase que não ha memória das ultimas eleições na Suazilândia, desde que Sobhuza II, seu pai, dissolveu o Parlamento, na década 70. Embora uma vez e outra tenha permitido a realização de eleições, como pretende fazer agora, os mais cépticos consideram que Mswati III continuará a governar o país de forma autocrática.

Mswati III, que e’ simultaneamente chefe de Estado, tem poderes executivos e legislativos quer para nomear e demitir membros do Governo (ministros), incluindo o primeiro-ministro, assim como para dissolver o Parlamento.

O Parlamento, que se limita a debater as propostas do Governo, é bicameral. A maioria dos membros da Câmara Alta, ou Senado, são apontados pelo rei.

A Suazilândia, um enclave entre a África do Sul e Moçambique, tem uma das ultimas monarquias absolutistas do mundo moderno.

Por outro lado, Mswati III apelou a preservação da paz e estabilidade como forma de valorizar a independência duramente conquistada. Afirmou que, apesar dos progressos alcançados em vários sectores de actividade nos últimos anos, o país continua a enfrentar o desafio de pobreza, doenças e desemprego, tendo apelado ao contributo de todos para superar estas e outras adversidades ao desenvolvimento.

Em nome dos chefes de Estado falou o Rei Letsie do Lesotho que, na sua intervenção, recomendou a manutenção da paz e estabilidade, principais objectivos da SADC, como factores de progresso e melhoria das condições de vida dos povos da região.

CRITICADOS POR EXCESSOS DA FAMÍLIA REAL
Nem tudo foi cor, alegria e emoção, sobretudo na véspera das celebrações. Muito dinheiro se gastou na organização da festa pela independência e aniversário natalício do Rei Mswati III. Embora não tenham sido revelados os custos, os mesmos são estimados em milhões de randes.

O Governo mobilizou mais de 100 viaturas de luxo, entre os quais dezenas de mercedes do último modelo, fazendo ecoar mais uma vez as vozes da sociedade civil, incluindo sindicatos e movimentos anti-monarquia, que acusam o Executivo de despesista num pais pobre com sérios problemas de desemprego, onde cerca de 70 por cento da população vive abaixo da linha da pobreza e cerca de 30 por cento estão infectados com o vírus de SIDA.

Várias vezes no passado longínquo e recente, o Rei Mswati III tem sido alvo de severas críticas internas e externas alegadamente por usar fundos do erário publico para a aquisição de palácios e carros super-luxuosos para as suas actuais 13 mulheres (o seu pai Sobhuza II tinha mais de 100 e morreu aos 82 anos) e um avião particular.

Nas vésperas da mega-celebração, mais de 10 mil pessoas saíram à rua em Mbabane em protesto contra o elevado custo de produtos básicos, cujo balanço aponta para várias lojas e viaturas vandalizadas, situação que obrigou a Polícia a usar balas de borracha e gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes furiosos.

Por outro lado, duas bombas sacudiram Mbabane na véspera. Uma explodiu perto da entrada de uma loja do Grupo KFC, ferindo pelo menos uma pessoa, que teve que ser evacuada para tratamento hospitalar, enquanto outra, num intervalo de duas horas, sacudia um autocarro mas sem causar danos entre os cerca de 30 passageiros que transportava. Estes incidentes levaram ao reforço das medidas de segurança.

Santos Nhantumbo, da AIM

Nenhum comentário: