Lurdes Mutola cumpriu a sua missão numa “louca” ponta final onde a gigante e rápida passada das “gazelas” quenianas era inalcançável. Lurdes Mutola, que ganhou tudo ao longo da sua brilhante carreira, até vinha acompanhando com toda a determinação o grupo da liderança desta envolvente final dos 800 metros dos Jogos Olímpicos de Beijing-2008, no “Ninho do Pássaro”, fez o que efectivamente lhe convinha e lhe era possível naquelas dificílimas condições: acelerar ainda mais o ritmo, na tentativa de ainda conseguir um dos lugares do pódio. Mas, debalde. A pouco e pouco, as forças começaram a faltar à moçambicana de 35 anos de idade e 20 de carreira, e a meta cada vez mais distante, perante o furacão queniano que não ofereceu tréguas a ninguém, com a jovem de 18 anos Pamela Jelimo a sagrar-se campeã olímpica, com a extraordinária marca de 1:54.87 minuto.
Desconsolada, porém não desiludida, a atleta moçambicana terminou na quinta posição, um lugar que não deslustra, se se tiver em linha de conta a estonteante velocidade que a prova conheceu, um ritmo neste momento aquém das suas capacidades. Aliás, com o tempo de 1:57.68 minuto, Mutola melhorou a sua marca do ano, facto que sucede pela terceira vez nesta Olimpíada chinesa, sinónimo de que em cada prova foi conhecendo uma subida substancial e, mesmo na final, manteve a ameaça às favoritas, até à altura em que, realmente, se sentiu extenuada e sem possibilidades de fazer mais.
Orgulhosa pelo facto de em cinco edições dos Jogos Olímpicos ter marcado presença em cinco finais - a excepção foi em Seul-88, no ano da sua estreia -, com medalhas de bronze em Atlanta-96 e ouro em Sidney-2000, Lurdes anunciou, pública e definitivamente, ontem, em Beijing, o ponto final à sua carreira de atleta, devendo realizar a derradeira competição a 29 deste mês de Agosto em Zurique, a cidade suíça onde conseguiu o seu melhor tempo de sempre, fixado em 1:55.19 minuto, a 17 de Agosto de 1994, portanto, há precisamente 14 anos.
Num dia em que a Quénia esteve em grande plano, uma vez que também foi sua a medalha de ouro nos 3000 obstáculos, nos 800 metros já se sabia que a disputa seria entre Pamela Jelimo, a principal candidata, e Janeth Jepkosgei. Estes prognósticos e conjecturas confirmaram-se na pista do Estádio Olímpico de Beijing, pois, desde o início, posicionaram-se à frente do pelotão e nunca mais de lá saíram. O controlo da prova pertenceu-lhes, acelerando mais na primeira volta, de forma a desgastar cedo as adversárias, para depois, na segunda, tudo se processar a seu bel-prazer.
Foi assim que, mesmo seguindo esse ritmo, Mutola não teve chances para resistir a tanto charme atlético das quenianas. Jelimo ganhou a medalha de ouro com 1:54.87 minuto, novo recorde mundial de juniores e novo máximo africano, deixando a sua compatriota Jepkosgei, medalha de prata, a uma distância assinalável (1:56.07). Com os três primeiros lugares a pertencerem a atletas africanas, a marroquina Hasna Benhassi ganhou a medalha de bronze, fazendo o tempo de 1:56.73 minuto.
A Primeira-Ministra, Luísa Diogo, disse , logo após a corrida, que Lurdes Mutola “saiu pela porta de frente”, em alusão aos feitos da “menina de ouro” nesta sua participação nos Jogos.
Luísa Diogo considera Mutola “um orgulho nacional que conseguiu elevar bem alto a Bandeira de Moçambique em todo o mundo. Ela fez um esforço acima do normal. Despediu-se bem e está de parabéns”.
Chamou a atenção para a necessidade urgente de se preparar outros campeões do mundo.
Na verdade, o final da carreira de Lurdes ocorreu numa final das Olimpíadas, o que é um facto de assinalar na história do desporto moçambicano e não só.
ALEXANDRE ZANDAMELA, enviado do notícias a Beijing
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