segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Naguib "ressuscita" Craveirinha …

Mestre Craveirinha

Começo assim o presente artigo: um poeta da dimensão de José Craveirinha pode estar morto? Normalmente, se quisermos seguir as mais elementares regras de jornalismo, um artigo não deve começar com uma pergunta. Mas se for à exposição do pintor Naguib que está patente no «Museu Nacional de Arte- MUSART» há-de, de Certeza, sair de lá inquieto. Nem que seja tão só pelo título da mesma, exposição: "Não Matem a Cultura/ Não Matem José Craveirinha*".


Cá por mim penso que Naguib quis com a referida exposição homenagear ao poeta-mor de Moçambique, o primeiro dos escribas a ser laureado com o Prémio Camões. É redundância dizer que o retromencionado galardão é o maior que se se oferece aos autores de Língua Portuguesa.
Uma redundância segunda: só se oferece a quem merece. E José Craveirinha mereceu. Por demais. E porquê Naguib homenageia a poeta que nos lembrou que "a poesia é uma arma carregada de futuro"? Um texto que Craveirinha escreveu há vinte anos num catalógo de uma exposição de Naguib pode ser a resposta. Insisto, pode ser a resposta. Porque as respostas não costumam ser definitivas. "E para quem como Nagib, ultrapassam os ínvios quotidianos desde os primeiros passos na vida, estamos muito predispostos em crer que não vai haver renúncia. Isso, Naguib, não fará. Porque na trincheira das artes plásticas de Moçambique não seria renunciar mas, sim, uma deserção. E Naguib é uma real promessa", escreveu José Craveirinha, a 2 de Junho de 1988, Foi prosa escrita há mais de vinte anos, quando Naguib ainda era “uma real promessa”.
Mas hoje, vinte anos depois, Naguib é um dos embondeiros das artes plásticas moçambicanas, ou de Moçambique. Não pelo tamanho, nem pela idade. Mas pela qualidade da sua obra que faz tempo que já transcendeu as fronteiras do solo moçambicano. E sem te precisado de saltar arame farpado, mas com legitimidade de que tem algo para oferecer ao planeta terra. Antes em 1986, ano da primeira exposição de Naguib, José Craveirinha escreveu o seguinte: "Procurar. Descobrir um caminho. Procurar vários. Não se perder. Eis o dilema dos artistas autênticos.
Felicito-te Naguib. E eu obrigado". Dizer mais para quê? Só se for para dizer que no «MUSART» estão expostas 29 obras do artista em referência, acompanhados de um belíssimo catálogo onde se pode ler vários textos sobre a obra do mesmo, o expositor, e também um belíssimo poema de Pablo Neruda de retiramos uns versos para quem a carapuça servir: "Máquinas esfomeadas de dólares/ manchado pelo sacrifício dos seus povos/negociantes prostitutas do ar e da terra(…)"
De facto é preciso "não matar a cultura" com todo risco de matarmos José Craveirinha que um dia, e é sempre bom recordar, chamou a um ministro da Cultura do governo moçambicano de "ministro da Costura".

Fonte: Canal de Moçambique (Celso Manguana)

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