segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Angola tenta travar processo Angolagate em Paris


Quando o Tribunal Correccional de Paris abriu hoje as portas para dar início ao processo do Angolagate, Luanda tentou impedir que o trabalho da justiça francesa alegando «respeito do segredo de defesa» de um país estrangeiro. Quinze responsáveis angolanos são citados no processo.

Começou às 13h30 (12h30 de Lisboa) no tribunal correccional de Paris o processo de Angolagate. Quarenta e dois arguidos são chamados a depor sobre um dossier de 170 toneladas relativo a um presumível tráfico de armas com Angola durante 1993 e 1998 que envolveu 790 milhões de dólares. Nenhum responsável angolano estará presente, mas Luanda já reagiu por intermédio do seu advogado em França tentando impedir o debate publico alegando o «respeito do segredo de defesa» de um país estrangeiro.

Comércio ilícito de armas, tráfico de influências, fugas ao fisco, comissões ocultas, financiamentos obscuros, são todos os ingredientes de um «bestseller» concentrados no chamado Angolagate, que o tribunal correccional de Paris revelará até Março de 2009.

O escândalo de Angolagate começa em 1992 quando José Eduardo dos Santos, presidente de Angola desde 1978, compreendeu que controlava apenas 20 por cento de Angola e estava em risco perder a guerra contra a UNITA que já estava presente em mais de 80 por cento do país.
Sujeito a um embargo internacional, o chefe de estado angolano, aconselhado por «eminências francesas», optou por furar o embargo e adquirir 420 carros de combate, 150 mil obuses, 170 mil minas antipessoais, 12 helicópteros e seis navios de guerra, entre outros armamentos do antigo bloco soviético que acabara de ruir, num valor global de 790 milhões de dólares, através da empresa francesa, Brenco, via uma sociedade eslovaca, ZTS Osos. Os estrategas da acção foram Pierre Falcone e Arkadi Gaydamak, que utilizaram homens de influência franceses remunerados através de complexos mecanismos de comissões apoiados em dezenas de sociedades fantasmas.

Hoje o Tribunal Correccional de Paris assistiu ao início de uma gala jurídica onde começam a desfilar 60 advogados da defesa e verdadeiras celebridades entre os 42 arguidos.

Pierre Falcone, principal arguido, 54 anos, nascido na Argélia de origem italiana, é acusado juntamente com Arcadi Gaydamak de ser o principal estratega no tráfico de armas para Angola. Para evitar «contratempos» com a justiça francesa Luanda nomeou em 2003 Falcone conselheiro na embaixada angolana junto da UNESCO auferindo-lhe a imunidade diplomática «previstas na convenção de Viena». Pierre Falcone reside em Pequim (China) e multiplica as deslocações a Luanda. Esteve presente hoje no tribunal.

Arkadi Gaydamak, 61 anos, milionário israelita nascido em Moscovo, acumula passaportes de França, Angola, Canada e Israel. É acusado, juntamente com Falcone, de ter organizada a venda ilícita de armas a Angola durante 1993 e 98, é também suspeito de abuso de confiança, fraude fiscal e tráfico de influências. Reside em Israel, é candidato à presidência câmara municipal de Jerusalém. Hoje permaneceu em Israel, mas promete comparecer numa audiência em Novembro.

Charles Pasqua, 81 anos, ex Ministro do Interior é acusado de tráfico de influência e abuso de bens sociais. Pasqua teria recebido várias centenas de milhares de euros nas suas acções de lóbi a favor de Luanda. Esteve presente hoje no tribunal.

Jean-Charles Marchiani, antigo conselheiro de Charles Pasqua, ex Prefeito do Var, terá recebido «comissões» nos jogos de influência para favorecer o comércio de armas com Angola. Esteve presente hoje no tribunal.

Jean-Christophe Miterrand, 62 anos, filho primogénito de antigo presidente François Miterrand e conselheiro do Eliseu para os assuntos africanos de 1986 a 1992, é acusado de ter recebido 2,6 milhões de dólares de comissões ocultas. Esteve detido três semanas em 2002, sendo libertado mediante uma caução liquidada pessoalmente por Danielle Miterrand, mãe do arguido. Esteve presente hoje no tribunal.

Jacques Attali, 64 anos, antigo conselheiro e confidente de François Mitterrand, é acusado de tráfico de influências com o objectivo de favorecer a empresa de Falcone, Brenco da qual teria recebido 160 mil dólares pelos «serviços» prestados.

Paul-Loup Sulitzer, escritor francês, acusado de tráfico de influência e abuso de bens sociais, funcionava supostamente como o «relações públicas» da engrenagem do Angolagate, teria recebido 380.000 euros de Pierre Falcone por serviços de «consultadoria de imagem». Esteve presente hoje no tribunal.

Do lado angolano ninguém estará presente no processo, porém o dossier cita 15 responsáveis angolanos entre os quais José Eduardo dos Santos, Joaquim David, então ministro da indústria, e o embaixador Elísio Figueiredo, que presumivelmente receberam 42 milhões de dólares além de 37 milhões recebidos pelo presidente angolano.

O processo Angolagate surge no momento em que o presidente francês, Nicolas Sarkozy, tenta reforçar as relações com Angola após anos de agonia. Algumas promessas foram efectuadas por Sarkozy durante a visita a Luanda em Maio, o qual aproveitou para convidar José Eduardo dos Santos a visitar o «país do Angolagate» em 2009, após o término do processo que iniciou hoje.

(c) PNN Portuguese News Network

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