segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Asfalto une país de norte a sul


No final de 2009, já será possível percorrer, por estrada, os cerca de 2500 quilómetros do rio Rovuma ao rio Maputo. A Estrada Nacional 1 vai ficar completa

Empreendimento é fundamental para relançar turismo no país

É um serpenteado suave no mapa, o desenho da Estrada Nacional 1, a principal via terrestre moçambicana, que une Cabo Delgado, no extremo norte, a Maputo, no extremo sul, numa travessia que segue por mais meia dúzia de províncias: Nampula, Zambézia, Sofala, Manica, Inhambane e Gaza.

No terreno, as consequências da guerra e do abandono, ao longo de três décadas, foram tornando a viagem totalmente impossível ou, na melhor das hipóteses, uma aventura de longas e perigosas horas.

Agora, terminada há muito a guerra civil que assolou o país, desminadas porções importantes da estrada, recuperados, ou em via disso, troços mais ou menos extensos, construídas ou reconstruídas pontes, quase a concluir-se a travessia do mítico Zambeze, a Estrada Nacional 1 de Moçambique prepara-se para aproximar os extremos do país, transformando-se numa vital linha de circulação de pessoas e bens. E constituindo também uma fundamental linha de desenvolvimento do turismo.

A conclusão da ponte sobre o Zambeze, no Caia, cujo projecto se baseia num trabalho do engenheiro português Edgar Cardoso, envolvendo as obras trabalho de empresas portuguesas, está prevista para o final de 2009 e projecta-se já para este Novembro o início dos trabalhos de reabilitação dos troços Xai-Xai/Chissibuca e Massinga/ Inhassengue, devendo tudo estar pronto no final do próximo ano.

Cem milhões de dólares
Neste fôlego moçambicano, que envolve mais de cem milhões de dólares, envolve-se, também, o projecto de criação de comités de estrada, formados por pessoal capacitado pelo Centro de Formação de Estradas moçambicano, para dar sustentabilidade ao esforço que agora se desenvolve, nomeadamente no plano da manutenção da via, que sofre, e há-de sofrer, os efeitos não apenas de condições climatéricas às vezes muito agrestes mas também da sobrecarga de milhares de veículos que nela circulam ou virão a circular.

Pronta a obra, abre-se uma via única, em Moçambique, para o desenvolvimento do país e para conhecer profundamente o território - da histórica Mueda, que se tornou um símbolo importante da guerra colonial, até ao paraíso de mar da Ponta do Ouro, havendo pelo caminho sinais únicos de um país de beleza e de história, sempre com a costa por perto.

Exemplos? Basta mencionar alguns: Pemba e o arquipélago das Quirimbas, Nampula e a ilha de Moçambique, Quelimane e o seu gigantesco palmar, Inhambane e Bazaruto, a Inhaca perto de Maputo. Todos são autênticos santuários de belezas naturais que em nada ficam a dever às melhores paisagens que podemos avistar noutros continentes.

Há ainda zonas interiores de descoberta obrigatória, como Mocuba, onde todos os caminhos se cruzam e Moçambique se abraça. E a travessia do Zambeze. E a Gorongosa, o reabilitado parque de preciosa vida selvagem que volta a atrair as atenções internacionais dos apreciadores da fauna africana.

Para além de vital na ligação de todas as zonas do país, a Estrada Nacional 1 vai ser seguramente um itinerário de excelência na aposta turística moçambicana, um dos sectores em maior expansão no país, que vai vendo as trágicas marcas da guerra cada vez mais longe e os sulcos da paz passarem de miragem a uma realidade pronta a desenhar-se no horizonte.

DAVID BORGES

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