segunda-feira, 6 de outubro de 2008

“PLANÍCIE SEM FIM” DE ELÍSIO MACAMO:

Elisio Macamo (centro)

Moçambique é um país cujos problemas não acabam

“PLANÍCIE sem fim”, titulo do último livro do sociólogo Elísio Macamo, lançado sexta-feira última, significa, numa das interpretações do autor, que os assuntos que dizem respeito à planície não acabam. Ou seja, os assuntos da esfera pública não esgotam. E se os assuntos não acabam, então, significa que o país também não termina. E por conseguinte, os problemas de Moçambique não têm fim. Não acabam”.

Falando no acto de apresentação do livro, no Instituto Camões, Elísio Macamo referiu que, este título pode ainda significar que, no sentido literal, nas pastagens, lá onde as pessoas se encontram e se envolvem numa actividade comum, há sempre algo por contar, algo por resolver e algo por fazer. “O que é próprio da pastagem não tem fim. Não sei muito bem se posso ter alguma latitude na interpretação do ditado. Com efeito, há várias interpretações possíveis”.

Os textos inseridos nesta obra, “são uma tentativa de encontrar uma resposta, ou várias, para essas perguntas. Debruço-me sobre quatro assuntos centrais, em minha opinião, à constituição do nosso país como sociedade política. Estou, em primeiro lugar, interessado no significado que a nossa própria acção tem para nós próprios. O que significa a história que nós próprios fizemos para nós? Que valor atribuímos à nossa independência, por exemplo? Merecê-mo-la? Não digo que não. Procuro identificar critérios a partir dos quais podemos, à sombra de um canhoeiro lá na pastagem, reflectir em conjunto sobre isso. Em segundo lugar, estou interessado em saber que assuntos privilegiamos quando nos sentamos para decidir sobre hierarquias no seio dos pastores e, porque não, no seio do gado também. São assuntos relevantes para o melhor aproveitamento do que a natureza nos deu? Aqui também não digo que escolhemos os piores assuntos.”

Ao acto de lançamento assistiram para além de estudantes de sociologia, familiares e amigos do autor, jornalistas, escritores, intelectuais e vários sociólogos da praça como é o caso de Rogério Sitoe e Moisés Mabunda.

“NOTÍCIAS” CRIA UM ESPAÇO DE REFLEXÃO PÚBLICA
Parte significativa dos textos nele inseridos foram publicados nas páginas do matutino Notícias, um órgão que ele considera que “faz para além daquilo que lhe é rotulado e analisado superficialmente”.

E prossegue sublinhando que, “no Notícias está a ser produzido um espaço de reflexão muito grande para o país. O Notícias é um espaço interessante de discussão pública”.

E a este propósito, Macamo revelou a sua preferência em publicar neste diário anotando que, “escrevo para estimular interpelações críticas. Para ser interpelado e desafiado”.

O autor de “Planície sem fim” falou ainda da Comunidade Presbiteriana de Chicumbane e aos habitantes da Aldeia Comunal Patrice Lumumba na periferia de Xai-Xai. Com estas comunidades Macamo conta que ficou a saber que o facto de sair-se de uma universidade, nem tudo se sabe fazer bem; aprendeu ainda a ser directo na sua comunicação: dizer com clareza aquilo que se pensa; foi ainda a melhor maneira de ganhar o sentido de estar em Moçambique (depois de uma longa ausência); também aprendeu que a vida das pessoas não muda: o que muda é, talvez a forma de como nós queremos interpretar a vida.

Elísio Macamo, sempre bem-humorado, meio a brincar fez uma análise comparativa de um poema de Fernando Couto, com o seu livro, cruzando com a empresa de telefonia móvel a mCel, patrocinadora desta obra.

Macamo falou do poema “Floresta” de Couto retirado da antologia “Rumores de água” que diz, “Por mais que te isoles/no seio da floresta/ a solidão não será/ tua companheira”. A este propósito, o autor de “Planície sem fim”, aponta como “solução” para alguém que esteja isolada na floresta e sem comunicação devido a um problema na rede mCel, para recorrer à companhia agradável do seu livro “Planície sem fim”...“sugiro que enquanto você espera pela ligação, leia o Elísio Macamo” .

Sobre este poema de Fernando Couto, o sociólogo aproveitou a ocasião para mostrar publicamente a sua admiração pela escrita da família Couto. “Afinal, o Mia não é obra do acaso. Essa coisa de escrever é mesmo genética. È da família. A poesia de Fernando Couto, homem com grande sentido de humor que já conheci em toda a minha vida, é um exemplo que confirma isso”.

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